terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Amós Oz trata de utopia e desilusão em comunidade

Amós Oz trata de utopia e desilusão em comunidade
No novo livro, 'Entre Amigos', autor israelense conta histórias sobre kibbutz
'A única maneira de manter uma fantasia intacta é não vivê-la', diz ele, sobre vida nos coletivos agrícolas
DIOGO BERCITODE JERUSALÉM

1954. O jovem Amós Klausner, então aos 14 anos de idade, deixa a casa de seu pai --a mãe se suicidara-- e se muda para o kibbutz Hulda, assentamento agrícola fundado em 1930 no que era então o mandato britânico da Palestina, hoje Israel.
Ontem à tarde, aos 74 anos e agora chamado Amós Oz, o israelense falou em entrevista à Folha sobre os anos de utopia e desilusão nessas comunidades, tema do livro "Entre Amigos", que está sendo lançado no Brasil pela Companhia das Letras.
O livro investiga as relações em um kibbutz, agrupamento coletivo criado no início do século 20, em Israel, a partir da ideia de vida comunitária de base socialista.
São oito histórias interligadas que dão conta não apenas do sonho em torno desse modelo agrícola autossuficiente, mas também do desapontamento que lhe seguiu, com os conflitos internos e externos nessas sociedades.
"O fato de que a experiência de kibbutz foi imperfeita não tem a ver com ser um kibbutz, mas com ser um sonho", afirma Oz. "A única maneira de manter uma fantasia intacta é não vivê-la."
Mas o kibbutz ainda lhe vem à noite, apesar das décadas longe. "Mesmo hoje sonho com Hulda ao menos uma vez por semana", diz.
Foi ali que Oz tornou-se um escritor, convencendo a liderança do kibbutz a isentá-lo de três dias de trabalho por semana para dedicar-se às letras. "Se eu tivesse passado a vida atrás da escrivaninha, não teria nada sobre o que escrever", ele afirma.
Oz é, ao lado de David Grossman, um dos israelenses mais traduzidos no mundo. Segundo o Instituto para a Tradução de Literatura em Hebraico, sua obra chegou a até 30 línguas e 35 países.

CÍCLICO

Oz viveu em Hulda por três décadas, entre atividades comunitárias e escrita. Ele mudou-se em 1986 para Arad, no deserto do Neguev, devido à dificuldade respiratória de seu filho, asmático. Há seis meses, a família passou a morar em Tel Aviv.
É a etapa recente de seu ciclo de decisões, incluindo deixar a casa do pai para viver em uma comunidade agrícola, quando era adolescente. "Eu me rebelei contra o mundo dele, cercado de livros. Queria ser caminhoneiro", diz. Hoje, nota que vive cercado pela literatura, do que conclui que "todas as revoluções tendem a correr em semicírculo ou em círculo".
Assim como o conflito entre árabes e israelenses, que o autor acompanha com voz ativa, falando à imprensa ou escrevendo artigos políticos.
Já em 1967, no texto "A Terra dos Nossos Antepassados", ele escrevera que a ocupação de um território, mesmo quando inevitável, é "corruptora", em referência à longa presença israelense na Cisjordânia desde essa data.
"A única maneira de quebrar esse ciclo é criar um Estado palestino ao lado de um Estado israelense. A casa é pequena, mas precisamos dividi-la em apartamentos."

ENTRE AMIGOS
AUTOR Amós Oz
TRADUÇÃO Paulo Geiger
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 34 (136 págs.)

Reprodução da Folha de São Paulo

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