segunda-feira, 26 de maio de 2014

Dissidências gaúchas em tempos canarinhos

Olho o mapa da política e constato: o Rio Grande do Sul não está com o Brasil. Que país é este? O Brasil? Não, o Rio Grande do Sul. Olho o quadro eleitoral e percebo: grande parte do Rio Grande do Sul não está com o Brasil. O que significa essa dissidência? O Partido Progressista, em nível nacional, ou, como diria o outro, “a nível nacional”, vai apoiar a candidata petista Dilma Rousseff. O PP gaúcho está disposto a ir à justiça para exigir que essa decisão seja fruto de uma convenção, não de um arranjo qualquer, mas não vai apoiá-la. Já tem candidato à presidência: o tucano Aécio Neves.
O PMDB nacional também vai apoiar Dilma. É o PMDB do vice-presidente da República Michel Temer. O PMDB gaúcho vai de Eduardo Campos para a presidência da República. Trata-se de um parricídio? Temer é presidente nacional do PMDB. O leigo olha para o tabuleiro da política e pergunta: o que leva a fração regional de um partido a apostar todas as suas fichas no candidato de outro partido e não na chapa da qual faz parte o seu chefe máximo, o presidente nacional? O leigo é leigo por isso. Desconhece os meandros da política. O PMDB nacional é uma federação de partidos regionais. O que faz o PMDB se manter PMDB e não se despedaçar por causa dessa aparente esquizofrenia? Quatro hipóteses: uma mitologia da resistência à ditadura, o PMDB como eterno MDB; a flexibilidade para dobrar e não quebrar; a falta de opção melhor com tanto poder; Ninguém sabe.
O PDT nacional vai apoiar Dilma Rousseff. E o PDT gaúcho? Não se sabe. O presidente estadual do PDT, Romildo Bolzan Júnior, gostaria de ver o PDT apresentar candidato próprio ao Planalto. Dificilmente isso acontecerá. Haveria um flerte do PDT gaúcho com o PSB de Eduardo Campos a ponto de se tornar coisa mais séria? Mas esse lugar nos pelegos já não está ocupado pelo PMDB? A carreira solo seria uma achado para os pedetistas. Acontece que o chefão nacional, Carlos Lupi, ama Dilma e não tem a menor intenção de sufocar esse amor. Como apoiar Dilma e rejeitar Tarso, que será apoiado pela “presidenta”? A lógica do primeiro turno até permite esses movimentos, embora confunda um pouco o eleitor mais quadradinho e exija algum contorcionismo verbal capaz de provocar dor na coluna.
Certo é que metade, ou mais, do Rio Grande do Sul não está com o Brasil. Não se trata de estar com o PT de Dilma. É outra coisa: o PP não está com o PP. O PMDB não está com o PMDB. E o PDT poderá não estar com o PDT. Tudo por causa dessa pedra no caminho que é o PT. O cínico – tem muito por aí – ironiza: não vão estar juntos durante a campanha. Depois, se Dilma se reeleger, estarão todos no mesmo iate. Ocorreu-me que aquele velho projeto separatista deveria ser retomado. Um amigo me convenceu de que não seria interessante do ponto de vista comercial: teríamos de importar tomate de São Paulo. Faz sentido. Em compensação, poderíamos, no futebol, criar a nossa Libertadores.
Olho o GPS da política e me perco: para onde vamos? Chego a pensar em problema no aplicativo. Nada disso.
É GPS gaúcho mesmo.
Só a Seleção de Felipão nos unificará com o Brasil.
Entre junho e julho seremos um só país.
Uma família.
Se o desempenho em campo e as manifestações não atrapalharem.


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