sexta-feira, 2 de maio de 2014

Al Qaeda tenta manter a unidade no oeste da África


A afiliada regional da Al Qaeda no oeste da África está morta, ao menos por ora?

Desde o início de março, as forças francesas mataram no Mali mais de 40 jihadistas pertencentes à afiliada, Al Qaeda no Magreb Islâmico, ou a seus associados. Elas mataram ao menos três líderes importantes, incluindo o sogro do mais procurado de todos os jihadistas africanos, Mokhtar Belmokhtar, assim como o sucessor do mentor de Belmokhtar, Abu Zeid.

Vários importantes chefes de uma ramificação da Al Qaeda, que governou o norte do Mali durante o reinado de terror de 2012, também foram capturados.

Ao mesmo tempo, os jihadistas não realizaram nenhum ataque significativo em quase um ano, desde dois atentados suicidas a bomba no Níger, em maio do ano passado. Muitos de seus esconderijos de armas foram destruídos.

Se ainda existem grupos jihadistas, é como um pequeno bando --poucas centenas no máximo-- constantemente em fuga, observados de perto por drones americanos e franceses e empurrados para os desertos ameaçadores e sem lei do sul da Líbia, segundo diplomatas ocidentais e autoridades de defesa da região.

Assim, o grupo que aterrorizou meio país, o norte do Mali, no coração do oeste da África por grande parte de 2012, tomando suas principais cidades e ameaçando outras nações na região, foi reduzido a uma sombra pálida do que foi. Ele não é mais uma ameaça proeminente aos Estados frágeis na região do Sahel do oeste da África --a faixa árida e semiárida logo abaixo do Saara.

"Trata-se de uma melhoria espetacular", disse um alto diplomata ocidental na região, que não estava autorizado a falar publicamente sobre o assunto. "Eles foram reduzidos a algumas zonas totalmente inóspitas. E eles não têm mais como intervir de modo significativo" --em outras palavras, realizar um grande ataque, disse o diplomata. Os militares franceses, espalhados em pequenas bases por toda a região do Chade ao Mali e auxiliados por tecnologia americana contiveram os grupos terroristas.

"O aparato militar francês agora abrange todo o Sahel", disse por e-mail o coronel Michel Goya, um oficial que leciona na academia militar francesa. "Nós estamos travando uma 'longa guerra' no Sahel, em cooperação com os Estados Unidos, constituída de vigilância e ataques."

Por ora, o reposicionamento das forças francesas e americanas para conter a ameaça jihadista parece estar funcionando.

"A capacidade ofensiva deles foi seriamente comprometida", disse um alto oficial de defesa ocidental no Sahel que não estava autorizado a falar sobre o assunto. "Os líderes deles foram neutralizados, a logística deles foi danificada. Eles têm muito menos liberdade de movimento. Não é mais a AQMI de um ano atrás", disse o oficial, usando as iniciais em inglês de Al Qaeda no Magreb Islâmico.

Os lançadores portáteis de mísseis terra-ar de posse da afiliada da Al Qaeda, que as autoridades consideravam uma ameaça em particular, foram enfrentados de modo eficaz, disse o diplomata ocidental.

As autoridades francesas expressaram irritação com o novo governo no Mali por não ter buscado mais vigorosamente uma política de reconciliação com os grupos étnicos perenemente descontentes do norte --como os tuaregues, que se aliaram aos jihadistas em 2012 e forneceram pessoal para a tomada das principais cidades da região. Mas, desde que os tuaregues não demonstrem novamente interesse em se aliar aos grupos da Al Qaeda --uma aliança que não foi boa para eles--, uma certa realpolitik obstinada dita que as queixas deles podem ser ignoradas de forma segura, ou ao menos negligenciadas.

O mesmo se aplica às afiliadas da Al Qaeda. A crueldade delas faz com que precisem ser constantemente vigiadas.

"Nós não as eliminamos totalmente", disse o diplomata ocidental. "Nós continuamos as enfraquecendo. Elas estão sob observação permanente."

Belmokhtar, o mentor do ataque mortal e espetacular contra uma usina de gás em In Amenas, no sul da Argélia, em janeiro de 2013, permanece em fuga. Mas "eu acho que será difícil para eles realizarem um ato terrorista de grande escala agora", acrescentou o diplomata. "Afinal, quando você mata 40 deles, você faz algum estrago", disse. "A vida deles está muito difícil agora."

Texto de Adam Nossiter, para o The New York Times, reproduzido no UOL. Tradutor: George El Khouri Andolfato

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