Para quem, como é o caso do general Abdel Fattah al-Sisi, havia exigido 40 milhões de votos (ou cerca de 80% dos 54 milhões de eleitores registrados), a enorme abstenção constitui uma humilhação talvez irreparável.
Contagem extraoficial informa que compareceu às urnas a metade, pouco mais ou pouco menos, do quórum que Sisi definira como necessário para lhe conferir um mandato para reformar profundamente um país sob crise política, social e econômica.
Interpretação do escritor e analista Mahmoud Salem para o precioso site "Al Monitor": "O deus que a mídia criou sangrou e, quando um deus sangra, ninguém mais crê na sua natureza divina".
Mais: "Seu apoio supostamente espalhado pelo país está agora severamente em dúvida, assim como sua capacidade gerencial e a ilusão de que o país seguirá sua liderança".
A abstenção, além de humilhar o ditador, é uma clara demonstração de que o Egito está profundamente dividido em ao menos três grupos.
Dois deles boicotaram o pleito (os seguidores da Irmandade Muçulmana e os laicos da sociedade civil que foram a ponta de lança do movimento que levou à queda de Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011).
O terceiro são os que acreditam nos militares e, por extensão, em Sisi.
Define-os o escritor Magdi Abdelhadi: "Não há dúvida de que Sisi é um nacionalista conservador e autoritário. Mas, nisso, ele está bastante sintonizado com muitos egípcios", declarou.
Do que tampouco há dúvida é de que se trata de uma ditadura, uma espécie de Mubarak 2.0.
AUTORITARISMO
Escreve, também para "Al Monitor", Zenobia Azeem, que se especializou na observação de eleições:
"Nada no presente ambiente político do Egito favorece eleições abertas e multipartidárias, que permitam a plena e igual participação de todos os egípcios e preservem a liberdade da mídia local e internacional para informar objetivamente".
Como parece inevitável que Sisi tenha que se reconectar com as instituições islâmicas, o autoritarismo só tende a ser reforçado, como escreve, para "Foreign Affairs", Robert Springborg, professor de assuntos de segurança nacional na Escola Naval de Pós-Graduação (EUA).
"O Egito de Sisi será aquele em que a religião reforçará o autoritarismo militar e servirá para justificar a repressão dos oponentes, mais especialmente daqueles políticos que, paradoxalmente, são também embebidos pelo islã", diz.
É uma alusão ao fato de que a Irmandade Muçulmana, outra grande instituição ao lado dos militares, está banida e e seus membros são vítimas de uma feroz repressão.
Daí vem o Mubarak 2.0: o ditador afastado tolerava a Irmandade, embora proscrita.
Contagem extraoficial informa que compareceu às urnas a metade, pouco mais ou pouco menos, do quórum que Sisi definira como necessário para lhe conferir um mandato para reformar profundamente um país sob crise política, social e econômica.
Interpretação do escritor e analista Mahmoud Salem para o precioso site "Al Monitor": "O deus que a mídia criou sangrou e, quando um deus sangra, ninguém mais crê na sua natureza divina".
Mais: "Seu apoio supostamente espalhado pelo país está agora severamente em dúvida, assim como sua capacidade gerencial e a ilusão de que o país seguirá sua liderança".
A abstenção, além de humilhar o ditador, é uma clara demonstração de que o Egito está profundamente dividido em ao menos três grupos.
Dois deles boicotaram o pleito (os seguidores da Irmandade Muçulmana e os laicos da sociedade civil que foram a ponta de lança do movimento que levou à queda de Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011).
O terceiro são os que acreditam nos militares e, por extensão, em Sisi.
Define-os o escritor Magdi Abdelhadi: "Não há dúvida de que Sisi é um nacionalista conservador e autoritário. Mas, nisso, ele está bastante sintonizado com muitos egípcios", declarou.
Do que tampouco há dúvida é de que se trata de uma ditadura, uma espécie de Mubarak 2.0.
AUTORITARISMO
Escreve, também para "Al Monitor", Zenobia Azeem, que se especializou na observação de eleições:
"Nada no presente ambiente político do Egito favorece eleições abertas e multipartidárias, que permitam a plena e igual participação de todos os egípcios e preservem a liberdade da mídia local e internacional para informar objetivamente".
Como parece inevitável que Sisi tenha que se reconectar com as instituições islâmicas, o autoritarismo só tende a ser reforçado, como escreve, para "Foreign Affairs", Robert Springborg, professor de assuntos de segurança nacional na Escola Naval de Pós-Graduação (EUA).
"O Egito de Sisi será aquele em que a religião reforçará o autoritarismo militar e servirá para justificar a repressão dos oponentes, mais especialmente daqueles políticos que, paradoxalmente, são também embebidos pelo islã", diz.
É uma alusão ao fato de que a Irmandade Muçulmana, outra grande instituição ao lado dos militares, está banida e e seus membros são vítimas de uma feroz repressão.
Daí vem o Mubarak 2.0: o ditador afastado tolerava a Irmandade, embora proscrita.
- Texto de Clovis Rossi, na Folha de São Paulo.
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