É difícil interpretar grandes acontecimentos quando os fatos ainda estão se passando. O Brasil teve a onda de protestos de rua em junho do ano passado. A violência tomou conta. O povo sumiu. Mas as manifestações persistiram, pipocando aqui e ali.
Nos últimos dias, a vida de quem mora em grandes centros se tornou um inferno. Ontem (20/5), em São Paulo, mais de dez terminais de ônibus foram fechados. Motoristas, professores e sem-teto foram às ruas e fecharam muitas vias. Hoje (21/5), policiais civis de vários Estados fazem uma paralisação de 24 horas. Na semana passada, uma greve da Polícia Militar de Pernambuco produziu atos de barbárie, com saques e violência.
Por que as pessoas estão mais irritadas do que o normal? Ninguém têm uma resposta científica e definitiva. Só é inegável a existência de uma onda de mau humor no país –sobretudo em grandes centros urbanos.
A explicação que Dilma Rousseff oferece é cartesiana. A renda média dos trabalhadores aumentou acima da inflação. A qualidade dos serviços oferecidos a esses consumidores não caminhou na mesma velocidade. Assim, nasceu a irritação.
Esse é um fenômeno curioso. Embora a oposição não goste de admitir, há um grande número de obras de infraestrutura em andamento. Quase tudo está sendo tocado com atraso. É verdade. Ainda assim, nos próximos dois anos o Brasil terá vários aeroportos prontos, estradas duplicadas, obras de mobilidade urbana e novas usinas hidrelétricas.
Lembro-me de um cenário parecido, em parte, nos EUA de 1992. O presidente era o pouco carismático George Bush. Estava em baixa depois de ajustar a economia para consertar a esbórnia do reaganismo. O eleitor ainda não sentia os efeitos. Bill Clinton ganhou a eleição daquele ano. O país logo voltou aos eixos –muito por causa dos ajustes de Bush.
É cedo para julgar, mas Dilma hoje guarda semelhanças com Bush.
Texto de Fernando Rodrigues, na Folha de São Paulo.
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