A qualidade da formação da elite de um país diz muito sobre a posição relativa do mesmo no sistema internacional. Quando bem formados, os quadros de elite conseguem cumprir a função social que lhes cabe: apontar rumos para toda a sociedade. Quando despreparados, eles atrapalham o desenvolvimento da coletividade à qual, em tese, deveriam estar servindo.
Cada país inventa seu próprio modelo de formação. As Grandes Écoles da França recrutam talentos para formar uma tecnocracia nacional. Oxford e Cambridge garantem o caminho às altas rodas de quem vem de escolas excelentes. As Ivy Leagues americanas selecionam com base em mérito e em privilégio. Índia, Colômbia e México treinam seus melhores quadros no mundo anglo-saxão, ao passo que a China o faz em casa.
A natureza dessa formação ajuda a explicar se a elite governante de um país será mais nacionalista ou cosmopolita, e mais aberta ou fechada a quem não vem de berço de ouro.
No passado, o Brasil já treinou suas elites em Portugal e fez de um punhado de escolas politécnicas e de direito seu celeiro de talentos. As escolas militares também tiveram seu quinhão.
Nos últimos 30 anos de vida democrática, a formação da elite brasileira viveu uma grande transformação. A expansão acelerada da rede de universidades públicas, a política de cotas, a provisão de crédito educacional e o boom de faculdades privadas criaram oportunidades antes inimagináveis para cidadãos interessados em compor as rodas que governam o país.
No entanto, o resultado deixa muito a desejar. Mesmo quem dispõe de dinheiro para investir é mal formado. Por um lado, nas instituições de ponta há pouca ou nenhuma ênfase na aquisição de habilidades e competências profissionais.
Assim, egressos dos melhores lugares apresentam dificuldade com o uso da língua oral e escrita, além de empacar em operações quantitativas básicas. Da redação de um simples e-mail formal à capacidade de debater um tema controverso em público, o processo de formação da elite brasileira patina. Via de regra, os hábitos de leitura e a capacidade de interpretar ideias complexas são lamentáveis.
Por outro lado, mesmo nos estratos mais altos da sociedade, a educação oferecida continua sendo obstinadamente alheia ao resto do mundo. O entrincheiramento nas fronteiras nacionais é a tônica dominante, produzindo quadros cuja ignorância a respeito daquilo que ocorre alhures é surpreendente na era da globalização. É o tipo de prática que condena o país ao atraso.
Se quisermos participar de maneira menos marginal no mundo em que vivemos, será necessário mudar.
Texto de Matias Spektor, na Folha de São Paulo.
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