O ministro Gilberto Kassab anunciou que o governo estuda a edição de uma
medida provisória para intervir na Oi. Ela é a maior operadora de
telefonia fixa do país, com 70 milhões de clientes em 25 Estados, deve
R$ 65,4 bilhões e está com um pé na falência. Em 1998, quando foi
arrematada por uma "telegangue" num memorável lance da privataria
tucana, chamava-se Telemar.
Veio o comissariado petista, a operadora mudou de nome, chamou-se Oi,
vulgo SuperTele, e foi uma das "campeãs nacionais" do BNDES de Lula. Na
lona, deve R$ 9,5 bilhões aos bancos da Viúva.
Aos 18 anos, a Oi poderá voltar para o colo da Boa Senhora, embalada
numa medida provisória que se destina a tapar os buracos abertos na
privataria tucano-petista.
O que se cozinha no Planalto não é apenas a intervenção na Oi, mas um
novo desenho para as negociações com os concessionários de serviços
públicos. A fila é enorme, com seis aeroportos que não pagaram R$ 2,3
bilhões de aluguéis contratados, mais portos, rodovias e ferrovias que
pretendem espichar os prazos das concessões, encolhendo suas obrigações
contratuais.
Desde maio, quando começou a choradeira dos aeroportos, os empresários
apresentaram argumentos estapafúrdios. Atribuíram seus maus resultados à
crise econômica, como se retrações da demanda não fossem um risco do
negócio.
Fariam melhor se olhassem para as relações incestuosas que mantinham com
o governo petista quando ofereceram ágios milionários pelas concessões.
A Odebrecht levou o Galeão; a OAS, Guarulhos; a UTC, Viracopos; a
Engevix, Brasília. E todos acabaram em Curitiba.
Mal começou, o governo de Temer deu um refresco aos concessionários que
não pagavam os aluguéis. Disse que eles deveriam pagar em dezembro. Era
lorota.
Seja qual for o problema, seja qual for a concessão, o remédio é sempre o
mesmo, vem aí uma medida provisória que se propõe milagrosa, mas
produzirá a próxima rodada de ruínas. O programa do aeroporto que não
paga o aluguel da concessão nada tem a ver com o de uma rodovia que
pretende rediscutir seus investimentos ou com a ferrovia
Transnordestina, com seus seis anos de atraso.
Assim como a Oi nasceu errada quando a "telegangue" arrematou a
concessão, outras privatizações foram encrencadas por erros na
arquitetura dos contratos, na concessão de financiamentos e, sobretudo,
pelos contubérnios de empresários com os poderosos. Nesse hospital, o
pior remédio é o da medida provisória milagrosa, enfeitada com
expressões salvadoras. Fala-se, por exemplo, em "modernização dos
contratos". A repórter Alexa Salomão mostrou o que há de moderno na
iniciativa. Há dias, o artigo 26 dava à Agência Nacional de Aviação
Civil o poder de "repactuar e realinhar o cronograma de pagamento da
outorga" (leia-se aluguéis) dos aeroportos. Se há alguém interessado em
atrair investidores sérios, é assim que se consegue espantá-los.
Temer e sua caravana mostram um certo fascínio pelas medidas
provisórias. Com a "modernização" das privatizações, certamente
mobilizarão o maior exército de jabutis já visto em Brasília. Passado
algum tempo, quando as coisas começarem a dar errado, virá outra medida
provisória com outro projeto de anistia para capilés de políticos.
Texto de Elio Gaspari, na Folha de São Paulo.
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