A Tijuca — terra que deu régua e compasso ao ex-ministro Marcelo
Calero — cultiva mistérios. Os adúlteros do bairro tinham predileção
pelo Bar das Pombas, na descida do Alto da Boa Vista, onde se
encontravam à tarde para ouvir o barulhinho do rio Maracanã. O
cartunista Jaguar, apreciador de Underberg, fabricado na região, jamais
descobriu a receita da beberagem. O endereço do bordel das normalistas
era segredo absoluto; nem do caderninho de Nelson Rodrigues constava.
O livro policial de Aldir Blanc é mais uma lenda da Tijuca. Dizem que,
nas frias madrugadas, dá para ouvir o bater furioso nas teclas de uma
velha máquina de escrever. "O homem está trabalhando...", sussurram os
últimos notívagos da rua Garibaldi.
O certo é que Aldir, há mais de 20 anos, escreve e reescreve uma
história sórdida, que continua apurando com escrivães de delegacia e
fontes insuspeitadas. Do conteúdo, nada ou pouco se sabe. Apenas que um
capítulo é destinado a destruir a reputação dos moradores do Grajaú.
"Falsos moralistas", o autor deixou escapar em rara conversa de
telefone.
Uma obra recém-lançada — "O Gabinete do Doutor Blanc", pela editora
carioca Mórula, reunindo artigos sobre jazz e literatura — dá algumas
pistas sobre o que vem por aí. Nela, Aldir elenca seus autores
prediletos no gênero: Hammett, Chandler, Ross Macdonald, Vázquez
Montalbán, James Ellroy, Lawrence Block, Henning Mankell e, não por
último, Luiz Alfredo Garcia-Roza.
Vai, Blanc, termina logo esse livro. Aproveita e bota na trama um
deputado federal adepto do caixa dois, da lavagem de dinheiro, do
peculato, e, claro, envolvido na Lava Jato e com o nome na lista da
Odebrecht — mas que prega a anistia. E um presidente da República que
age como zangão dos interesses privados de seus amigos no balcão de
mamatas do PMDB.
Texto de Álvaro Costa e Silva, na Folha de São Paulo.
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