terça-feira, 29 de novembro de 2016

Aldir Blanc leva mais de 20 anos escrevendo um romance policial

A Tijuca — terra que deu régua e compasso ao ex-ministro Marcelo Calero — cultiva mistérios. Os adúlteros do bairro tinham predileção pelo Bar das Pombas, na descida do Alto da Boa Vista, onde se encontravam à tarde para ouvir o barulhinho do rio Maracanã. O cartunista Jaguar, apreciador de Underberg, fabricado na região, jamais descobriu a receita da beberagem. O endereço do bordel das normalistas era segredo absoluto; nem do caderninho de Nelson Rodrigues constava.
O livro policial de Aldir Blanc é mais uma lenda da Tijuca. Dizem que, nas frias madrugadas, dá para ouvir o bater furioso nas teclas de uma velha máquina de escrever. "O homem está trabalhando...", sussurram os últimos notívagos da rua Garibaldi.
O certo é que Aldir, há mais de 20 anos, escreve e reescreve uma história sórdida, que continua apurando com escrivães de delegacia e fontes insuspeitadas. Do conteúdo, nada ou pouco se sabe. Apenas que um capítulo é destinado a destruir a reputação dos moradores do Grajaú. "Falsos moralistas", o autor deixou escapar em rara conversa de telefone.
Uma obra recém-lançada — "O Gabinete do Doutor Blanc", pela editora carioca Mórula, reunindo artigos sobre jazz e literatura — dá algumas pistas sobre o que vem por aí. Nela, Aldir elenca seus autores prediletos no gênero: Hammett, Chandler, Ross Macdonald, Vázquez Montalbán, James Ellroy, Lawrence Block, Henning Mankell e, não por último, Luiz Alfredo Garcia-Roza.
Vai, Blanc, termina logo esse livro. Aproveita e bota na trama um deputado federal adepto do caixa dois, da lavagem de dinheiro, do peculato, e, claro, envolvido na Lava Jato e com o nome na lista da Odebrecht — mas que prega a anistia. E um presidente da República que age como zangão dos interesses privados de seus amigos no balcão de mamatas do PMDB.


Texto de Álvaro Costa e Silva, na Folha de São Paulo

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