Ainda não dá para cravar, mas tudo indica que há policiais envolvidos no assassinato dos cinco jovens paulistanos
que estavam desaparecidos havia duas semanas. Não chega a ser surpresa.
As polícias brasileiras são o retrato do fracasso civilizacional do
país.
Como já escrevi aqui, a criação da polícia foi um dos passos mais
decisivos para a humanidade. O surgimento de Estados fortes com suas
milícias e o monopólio do uso da violência, no século 16, fez as taxas
de homicídios despencarem para algo entre um décimo e um quinquagésimo
dos valores anteriores. Mas, se a polícia é a conquista mais fundamental
da civilização, o controle do aparato policial é sem sombra de dúvida a
segunda mais importante. Nesta, o Brasil falha miseravelmente.
Dados do recém-divulgado 10º Anuário de Segurança Pública mostram que a
taxa de letalidade das polícias brasileiras é de 1,6 óbito por 100 mil
habitantes, o que é uma enormidade. Nos EUA, o mais violento dos países
industrializados, esse índice é de 0,34, que já é incomparavelmente mais
do que o 0,0034 da polícia finlandesa ou o 0,0016 da inglesa. Nossos
agentes da lei matam mil vezes mais que seus homólogos britânicos.
É verdade que os policiais brasileiros também são assassinados em
proporções muito maiores do que os de nações avançadas, o que os deixa
visceralmente predispostos a puxar o gatilho. A questão é que cabe ao
Estado adotar medidas que possam superar essa lógica de vendeta. Não tem
conseguido fazê-lo.
No caso de São Paulo, que tem tido sucesso em reduzir de forma
consistente os índices gerais de homicídio, a persistência da alta
letalidade policial (1,9 por 100 mil em 2015) se torna ainda mais
gritante.
Aqui não dá para exonerar o PSDB de culpa. O partido governa o Estado já
há mais de 20 anos, tempo suficiente para trocar toda uma geração de
agentes da lei, e não chegou nem perto de criar uma polícia civilizada.
Texto de Helio Schwartsman, na Folha de São Paulo.
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