Os brasileiros estão sofrendo com a extrema violência no país, como um músico de 47 anos:
"Eu também morro um pouco junto com todos que estão sendo assassinados, roubados, estuprados. Perdi a esperança de que o Brasil renasça das cinzas e podridão. Costumava acompanhar obsessivamente todas as notícias dos jornais e televisão. Agora, não aguento mais ouvir casos e mais casos de violência e de corrupção. Parece uma novela velha e interminável, que repete os mesmos capítulos todos os dias. Nenhum filme vai conseguir reproduzir o drama que estamos vivendo".
A violência acabou afetando o seu trabalho.
"Sinto uma angústia enorme, uma impotência, uma espécie de ressaca física e emocional. Estou exausto, desanimado e deprimido. Estou me sentindo inútil, nada do que faço tem importância e significado com tanta miséria e violência. Não estou conseguindo produzir nada, parece até que estou paralisado, esperando o país mudar para retomar os meus projetos. Só canto aquela música: 'Não, não posso parar, se eu paro eu penso. Se eu penso, eu choro".
Uma professora de 53 anos disse que nunca se sentiu tão insegura e vulnerável.
"As pessoas estão muito mais agressivas. São violências diárias, cotidianas, sem qualquer motivo. Um vendedor que me trata mal, um aluno que me ignora, um colega que me desrespeita, motoristas que me cortam e me xingam, um ex-marido que só me critica e desvaloriza. A falta de reconhecimento também é uma violência. Preciso me controlar para não chorar nestes momentos. O clima de violência, roubalheira e desrespeito é tamanho que afetou todo mundo. Todos que conheço estão muito irritados, intolerantes e violentos. Está muito difícil sobreviver no meio de tanta violência".
Ela tomou a decisão de remar contra a maré. De tanto levar "porradas", decidiu reagir de uma forma diferente. Em vez de responder com a mesma agressividade, tenta ser cada vez mais atenciosa, carinhosa e delicada. Quanto mais violenta é a pessoa, mais educada ela é. Resolveu que não vai se contaminar com este clima de ódio.
Se violência gera violência, é possível que gentileza gere gentileza. Será que agindo assim vamos conseguir desarmar a energia negativa e a agressividade dos que nos cercam?
Texto de Mirian Goldenberg, na Folha de São Paulo.
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