Em novo livro, França Castro quer desviar leitor de 'olhar acomodado'
WALTER PORTO
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
"Começar a ler um romance, parar. / Começar outro, parar. / Começar outro, parar. / Tornar-se livro de contos". O trecho, um exercício de teatro de um ator que protagoniza um dos contos do novo livro de Marcílio França Castro, soa como uma referência à própria obra que o contém.
O autor, porém, descarta a comparação como uma mera brincadeira do personagem. Declara-se insatisfeito com a definição tradicional dos gêneros literários.
"O termo conto é precário para englobar a multiplicidade de narrativas que a gente pode produzir," diz ele à Folha. Prefere o termo "ficções".
"Histórias Naturais", que França Castro lança durante a Flip, abarca ficções dos mais diversos temas e tamanhos. Vai desde a longa história que abre o livro, sobre um datilógrafo de tribunal que faz carreira no cinema como dublê de mãos de escritores famosos, até uma reflexão de apenas um parágrafo sobre um par de sapatos velhos.
É o terceiro livro de contos publicado pelo escritor mineiro de 49 anos que, tal qual o protagonista da primeira narrativa, levava carreira de funcionário público até estrear na literatura em 2009 com "A Casa dos Outros" (7Letras).
Despontou de vez três anos depois ao vencer o prêmio Clarice Lispector da Fundação Biblioteca Nacional por "Breve Cartografia de Lugares sem Nenhum Interesse", da mesma editora.
Nesta quinta (30), às 17h15, ele divide uma mesa na Flip com o mexicano Álvaro Enrigue, que, entre contos e romances, vem se destacando na ficção latinoamericana.
Segundo França Castro, seu livro mais recente tinha o propósito inicial de jogar com a aproximação de diferentes áreas do conhecimento, transpondo a lógica de um determinado campo a outro.
No processo, a proposta foi ampliada, mas manteve a brincadeira literária com o método científico. O próprio título é uma referência irônica a essa tradição, evocando o rigor de coleções enciclopédicas que tinham, segundo ele, "o ímpeto de fazer um inventário do mundo".
A chave que define seu estilo, diz França Castro, é o que chama de "realismo oblíquo": narrativas insólitas, sob lentes improváveis, mas que não pendem para o fantástico. "É o deslocamento do olhar sobre os objetos e sobre o mundo," define o autor. "É uma tentativa de tirá-los do olhar acomodado, cristalizado".
HISTÓRIAS NATURAIS
AUTOR Marcílio França Castro
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 39,90 (200 págs.)
AUTOR Marcílio França Castro
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 39,90 (200 págs.)
Reprodução da Folha de São Paulo.
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