O ótimo filme "Casa Grande", de Fellipe Barbosa, é didático até demais ao abordar o tema das cotas. Mas a inteligência e a virulência com que uma adolescente defende o direito de ser cotista num disputado colégio público ilustra algo que se move no país.
Quando esta coluna fez, na segunda (20), ressalvas ao modelo hegemônico de ativismo sociocultural, faltou dizer que novas práticas e lideranças estão nascendo nas escolas e universidades –sobretudo graças às cotas e ao ProUni, mas os primeiros passos foram dados antes desses programas. Jovens de baixa renda estão com chances maiores de concluir o ensino médio e o superior.
Em análise publicada nesta Folha também na segunda, Mauro Paulino e Alessandro Janoni, do Datafolha, traduziram em números a mudança em curso. "O grau de escolaridade do segmento [jovens] aumentou significativamente a partir do final da década de 1990. Há 19 anos, a maioria tinha apenas o ensino fundamental e a taxa de nível superior era de somente 5%. Hoje, 65% têm o nível médio e 22% cursam ou cursaram uma faculdade."
O ativismo sociocultural predominante se põe como mediador entre grupos "sem voz" e poderes estabelecidos: governos, empresas, imprensa. Alguns de seus expoentes ganham prestígio e verbas.
Mas estão emergindo jovens que não se contentam em fazer oficinas de arte ou criar pequenos negócios. Buscam ter expressão política, tocar abertamente nas feridas sociais e raciais. A emersão em larga escala pode levar décadas ou acontecer daqui a pouco.
"Cortes em políticas da educação, mudanças na lei de terceirização e a diminuição da maioridade penal, a depender dos formatos adotados, têm um potencial muito maior de frustrar esse segmento do que qualquer outro estrato da população", escreveram Paulino e Janoni.
Texto de Luiz Fernando Vianna, na Folha de São Paulo.
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