O deputado Eduardo Cunha não se contenta mais em comandar a Câmara e derrubar ministros do governo. Ele agora quer mandar nas duas casas do Congresso.
Este é o significado da ameaça que o peemedebista fez ao Senado nesta quinta, com o objetivo de acelerar a terceirização ampla, geral e irrestrita da mão de obra no país.
Cunha ficou irritado porque o senador Renan Calheiros, que não é conhecido pelo empenho em defender os trabalhadores, afirmou que o tema será analisado sem afobação.
O deputado ameaçou retaliar travando projetos do Senado que tramitam na Câmara. "Pau que dá em Chico também dá em Francisco. Engaveta lá, engaveta aqui", disse o deputado à repórter Andréia Sadi.
No início da semana, ele já havia prometido anular eventuais modificações que sejam feitas pelo Senado. "A última palavra será da Câmara. A gente derrubaria a decisão se o Senado desconfigurar", desafiou.
Cunha tem atropelado quem tenta atravessar seu caminho. Na sessão que librou a terceirização, cortou os microfones para calar ao menos três colegas que o contestavam, incluindo o líder do governo.
Foi chamado de autoritário e acusado de atropelar o regimento, mas conseguiu o que queria. Os deputados aprovaram o projeto nos moldes pregados pelo lobby empresarial, liderado por Fiesp e CNI.
A atitude do presidente da Câmara, que se comporta como dono da bola, já incomoda alguns senadores. "As declarações dele são no mínimo desrespeitosas com o Senado", diz o petista Lindbergh Farias.
O clima azedo pode dar impulso a uma novidade. Nos últimos dias, senadores de partidos como PT, PSB e PDT começaram a articular uma frente para barrar pautas conservadoras que Cunha faz avançar a toque de caixa entre os deputados.
Além da terceirização, querem vetar a redução da maioridade penal e o Estatuto da Família, que ignora direitos de casais do mesmo sexo.
Texto de Bernardo Mello Franco, na Folha de São Paulo.
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