Acusado por alguns na Europa de ser ambíguo sobre a história soviética, o presidente russo Vladimir Putin reconheceu nessa quinta-feira (16) que impor "pela força" o modelo socialista em países do Leste Europeu após a Segunda Guerra Mundial não "foi uma boa ideia".
As declarações de Putin são feitas quando se aproxima o 70º aniversário da vitória da antiga URSS contra a Alemanha nazista. Moscou organiza celebrações com grande pompa para esta data, 9 de maio de 1945, mas a maioria dos líderes ocidentais não comparecerão às cerimônias em razão do conflito na Ucrânia.
"A escolha (de vir em 9 de maio) pertence a cada líder político. Alguns não querem vir, eu admito, outros não têm autorização" de Washington de vir "mesmo que muitos desejassem", ironizou.
O presidente russo, que justificou no passado a fundamentação do Pacto Germano-Soviético de 1939, chamando a queda da URSS de "a maior tragédia geopolítica do século 21", mostrou-se crítico quanto à atitude da URSS de Stálin logo após o fim da Segunda Guerra.
"Após a Segunda Guerra Mundial, tentamos impor nosso próprio modelo aos países do Leste Europeu e fizemos isso por meio da força", declarou o presidente russo, admitindo que "isso não foi uma coisa boa".
"É preciso reconhecer", insistiu durante a transmissão televisiva anual de perguntas e resposta à qual deve passar.
O chefe de Estado russo fazia referência ao estabelecimento após a Segunda Guerra Mundial de regimes comunistas nos países do Leste Europeu, principalmente na República Tcheca, Hungria e Polônia. Por mais de 40 anos, esses países do bloco socialista, ou do "bloco do leste", foram controlados em maior ou menor medida por Moscou.
"Continuamos a sentir o eco" da política soviética da época, considerou Vladimir Putin, ressaltando, contudo, que os Estados Unidos fizeram o mesmo.
"Os americanos se comportaram mais ou menos da mesma maneira, tentando impor um modelo em todo o mundo, e eles também vão fracassar", assegurou Putin.
As tensões entre a Rússia e os ocidentais, que os acusa de envolvimento direto na crise na Ucrânia, reascenderam uma velha polêmica sobre o controle da URSS de Stálin sobre os países do leste europeu. Os países bálticos e a Polônia, ocupados no passado pelas tropas soviéticas, temem que a atual guerra na Ucrânia seja o preâmbulo de uma repetição da História.
Recentemente, o presidente polonês, Bronislaw Komorowski, considerou que os soviéticos realmente "acabaram com a ocupação hitlerista da Polônia", mas "não trouxeram liberdade".
'Stálin não é Hitler'
Por sua vez, Vladimir Putin citou durante o programa televisivo a adoção pelo Parlamento da Ucrânia de leis que remontam à memória visando a "dessovietização" do país.
Estas leis colocam no mesmo patamar os regimes soviético e nazista e proíbem toda "negação pública" de seu caráter "criminoso", bem como a "produção" e utilização pública de seus símbolos - como hino, bandeiras ou a famosa foice e martelo - com algumas exceções.
Contudo, Putin considerou que não há razões para colocar o nazismo e stalinismo no mesmo nível. "Ainda que fossem monstruosos do ponto de vista da repressão e das deportações de povos inteiros, o regime stalinista não tinha a intenção de aniquilar a população", considerou Putin.
Notícia da AFP, reproduzida no UOL.
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