sexta-feira, 5 de julho de 2013

Golpe democrático é tão paradoxal quanto um morto-vivo, diz premiê turco

"Não existe golpe democrático. (Conceber) isso é tão paradoxal quanto um morto-vivo", afirmou o premiê turco Recep Tayyip Erdogan, que condenou o golpe no país. "Haverá quem diga 'golpes são ruins, MAS... Isso (pensar assim) é errado."
"Todos os golpes, não importa onde e contra quem, são inumanos, maus e inimigos da democracia."
Segundo o político, a deposição do presidente eleito Mohamed Mursi serve como um "teste de sinceridade" para outros países supostamente alinhados com a democracia.
"Estou surpreso com o Ocidente. Eles não podem dizer que é um golpe. O que aconteceu com seus ideias democráticos?" Instado a citar nomes, com exceção dos governos da Turquia e da Qatar, que "ajudaram financeiramente" o Egito, ninguém apoiou a permanência de Mursi no poder. O premiê também atacou a União Europeia (UE) por "permanecer indiferente" à crise no país.

Cenários distintos

Alvo de protestos em seu próprio país, Erdogan disse que não é possível comparar a crise no Egito com as recentes manifestações na Turquia.  Mas afirmou que nenhum golpe de Estado na Turquia beneficiou o país.
"Aqueles que apóiam o golpe no Egito deveriam ler a história turca. Cada golpe - não vou chamar de 'intervenção militar' - lançou a Turquia dez anos no passado", afirmou. Segundo ele, "se um governo comete erros, nós ainda temos a urna". 

Contexto das críticas

O contexto das declarações de Erdogan têm a ver com a crise política em seu próprio país. Há um mês, manifestantes ocuparam a praça Taksim, em Istambul, em protesto contra a decisão do governo de derrubar o lugar para a construção de um shopping. Rapidamente os protestos em Taksim passaram a pedir a renúncia do premiê, acusado de autoritarismo e de querer islamizar o país. 
Em resposta, Erdogan sempre disse que o caminho adequado para resolver o conflito é o da urna. Como concessão aos manifestantes, porém, o premiê aceitou aguardar a Justiça do país decidir sobre a legalidade da obra (a Justiça considerou a demolição irregular e a vetou).
A crise política no país praticamente minou as chances de a Turquia ser aceita como integrante da União Europeia.

Golpe no Egito

O Exército egípcio destituiu na quarta-feira (3) o presidente eleito do país, Mohamed Mursi. Segundo as Forças Armadas, ele não "atendeu as demandas da população". A Constituição do país foi suspensa e uma nova constituinte será convocada. O Exército nomeou o presidente da Corte Constitucional, Adly Mansour, como presidente interino.
A medida teve amplo apoio popular, embora haja grupos contrários à saída de Mursi do poder. Os opositores acusam Mursi, que ficou exatamente um ano do poder, de não promover as reformas necessárias para turbinar a economia e as condições de vida do país. Seus críticos também reclamam de diminuição dos direitos sob Mursi.
Mursi foi o primeiro presidente democraticamente eleito do Egito. Ele substituiu o ditador Hosni Mubarak, que governou o país por 20 anos, até ser deposto por revoltas populares em janeiro de 2011.
Sete pessoas foram mortas em confrontos com as forças de ordem em Marsa Matrouh e em Alexandria, na costa mediterrânea. Três opositores também morreram em combates contra militantes favoráveis a Mursi em Al-Minya (centro). Desde 26 de junho, 57 pessoas morreram, sendo dez na noite de quarta-feira em confrontos com as forças de segurança e nos choques entre partidários e opositores a Mursi.

O Ministério do Interior advertiu que responderá com firmeza aos distúrbios, e tanques foram mobilizados nas ruas do Cairo.

Um soldado egípcio morreu e outros dois ficaram feridos em ataques simultâneos de militantes islâmicos na manhã desta sexta-feira (5) contra postos da polícia e do Exército na região do Sinai.

Nos arredores da cidade de Al-Gura, no norte do Sinai, um ataque com foguetes e metralhadoras matou um soldado e feriu outros dois militares em um posto de controle.

Mursi detido por militares

Entre outras medidas contra a Irmandade Muçulmana, que chegou ao poder no ano passado após 30 anos de clandestinidade, o Exército colocou em prisão domiciliar a cúpula presidencial e foram emitidas 300 ordens de prisão contra os membros do movimento. Dois de seus líderes foram detidos, Saad al-Katatni e Rashed Bayumi.
Mohamed Badie, o guia supremo da Irmandade Muçulmana, e seu adjunto, Khairat al-Chater, também foram presos.

A Irmandade Muçulmana reagiu, denunciando um "Estado policial", e os islamitas convocaram manifestações pacíficas para uma "sexta-feira de rejeição".

Mal-estar no exterior 

A derrubada de um presidente democraticamente eleito e a suspensão da Carta constitucional por um período de transição indeterminado criaram algum mal-estar no exterior e suscitaram diferentes reações.

Evitando falar de um golpe de Estado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se disse "profundamente preocupado" com a situação do país árabe, enquanto o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu o restabelecimento rápido do governo civil e a Rússia pediu "moderação" às forças políticas do Egito para que o país permaneça no caminho "democrático".

A União Europeia também convocou todas as partes envolvidas a "voltarem rapidamente ao processo democrático", com novas eleições presidenciais, como prometeram os militares ao suspenderem a Constituição.

Berlim denunciou "um grande fracasso para a democracia no Egito", enquanto Londres, indicando que "não apoia intervenções militares", manifestou sua intenção de cooperar com as novas autoridades.

Na região, o rei Abdullah da Arábia Saudita foi o primeiro líder estrangeiro a parabenizar o novo presidente interino, Adly Mansur - antes mesmo de Mansur ter prestado juramento. Abdullah o chamou de "presidente da irmã República Árabe do Egito".

Reprodução de notícia do UOL.

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