sexta-feira, 12 de julho de 2013

Economia chinesa desacelera e prejudica recém-formados

Economia chinesa desacelera e prejudica recém-formados
Por KEITH BRADSHER e SUE-LIN WONG

HONG KONG - Sete milhões de estudantes irão se formar em universidades e instituições de ensino superior de toda a China nas próximas semanas, um recorde para o país. Porém, suas chances de encontrar emprego são pequenas -mais um dos sinais do enfraquecimento da economia chinesa.
As empresas afirmam que estão repletas de currículos, mas têm poucas vagas a oferecer, pois o crescimento econômico deixou de ser tão intenso.
Microblogs chineses parecidos com o Twitter estão cheios de reclamações de jovens graduados com poucas perspectivas.
O governo chinês está preocupado e diz que o problema poderia afetar a estabilidade social, ordenando que escolas, agências governamentais e empresas contratem mais graduados para ajudar a diminuir a falta de emprego.
"A única coisa que me preocupa mais do que uma pessoa sem formação e desempregada é uma pessoa educada e sem emprego", afirmou Shang-Jin Wei, economista da Columbia Business School, em Nova York.
Lu Mai, secretário-geral da Fundação para o Desenvolvimento da Pesquisa na China, organização apoiada pelo governo, afirmou em um pronunciamento neste mês que menos da metade dos formandos deste ano já tinha conseguido um emprego.
Os formandos de praticamente todas as universidades da China, com exceção das de elite, afirmam que poucos de seus conhecidos já estão empregados e que as poucas propostas recebidas no inverno estão sendo canceladas com o enfraquecimento da economia.
"Alguns dos meus colegas foram contratados e mandados embora no mesmo mês, quando as empresas perceberam que não poderiam pagar seus salários", afirmou Yan Shuang, graduanda do curso de trabalho e recursos humanos do Instituto de Tecnologia de Pequim.
Yan disse que haviam lhe prometido uma vaga em uma empresa de roupas esportivas no inverno. Porém, em março, a empresa cancelou temporariamente todas as contratações.
A China quadruplicou o número de estudantes matriculados em universidades e faculdades ao longo da última década. Porém, a economia do país ainda se baseia na manufatura, com vagas principalmente para trabalhadores braçais. O primeiro-ministro Li Keqiang realizou pessoalmente a reunião de gabinete, em maio, onde foi definida a diretiva para que escolas, órgãos governamentais e empresas estatais contratassem mais graduados, uma estratégia que tem sido utilizada com cada vez mais frequência, nos últimos anos, para absorver jovens desempregados e bem formados.
Uma pesquisa nacional lançada no inverno do ano passado revelou que, na faixa etária de 21 a 25 anos, 16% dos homens e mulheres com diploma universitário estavam desempregados.
Porém, o desemprego atinge apenas 4% das pessoas que concluíram o ensino fundamental.
Os salários dos trabalhadores vindos de áreas rurais para zonas urbanas aumentaram 70% nos últimos quatro anos. Já os salários dos jovens com empregos no setor executivo se mantiveram constantes ou caíram.
Economistas estimam há muito tempo que a economia chinesa precisa crescer entre 7% e 8% ao ano para evitar o desemprego desenfreado. Porém, esse conselho se tornou mais incerto à medida que o mercado de trabalho se dividiu.
É preciso haver um crescimento muito mais rápido para empregar todos os universitários que estão se formando.
O Fundo Monetário Internacional prevê que a economia chinesa irá crescer 7,75 % neste ano -menos do que o crescimento de 10% a 14% que ocorria até 2008, mas ainda muito mais que no Ocidente.
O principal problema para a China reside no crescimento absoluto do número de graduados; três milhões de universitários se formam por ano nos Estados Unidos, ao passo que a China aumentou o número de graduados em mais de cinco milhões em apenas uma década.
Uma resposta é a recomendação de que os graduados aceitem empregos em pequenas empresas privadas. Porém, a geração que cresceu sob a política do "filho único" se mostra bastante avessa ao risco e não gosta de abrir novas empresas nem de trabalhar para elas. "Eu não trabalharia para empresas privadas, não é seguro -só aceito trabalhar para as estatais", afirmou Yan.
Muitos formandos que veem poucas oportunidades de trabalho estão optando por fazer cursos de pós-graduação em vez de entrar no mercado de trabalho.
Os serviços financeiros são um campo extremamente popular.
Estatísticas do Ministério de Recursos Humanos mostram que o salário médio no setor bancário é de 14.500 dólares ao ano, o dobro do salário da área de educação e de saúde.
Lin Yinbi, graduando em comércio e economia na prestigiada Universidade Renmin, em Pequim, afirmou que tinha ofertas de emprego de uma empresa de aquecimento e uma rede de supermercados, mas que ainda procurava um emprego bem pago em algum banco.
"A questão é: que tipo de emprego?", disse. "Ele é na minha área? Paga bem? Oferece espaço para crescer?"
Wang Zhian, um apresentador chinês, gerou desconforto ao recomendar que os formandos aceitassem empregos em empresas de mudanças. "O mais importante para os graduandos é encontrar um meio de vida e, se isso significa trabalhar fazendo carreto, que seja", afirmou. "Não dá para ser sustentado pelos pais para sempre."

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