sexta-feira, 12 de julho de 2013

Sob Hollande, França mantém política contra ciganos

Sob Hollande, França mantém política contra ciganos
Depois de criticar Sarkozy, socialista continua deportações
Por STEVEN ERLANGER

PARIS - Em um período de três semanas na primavera, a polícia francesa desmontou acampamentos de ciganos em Saint-Denis, perto de Paris, e ao longo do rio Var, a oeste de Nice. Em Lyon, alguém ateou fogo a uma fábrica desativada onde ciganos tinham se instalado, matando duas mulheres e um menino de 12 anos. Duzentas pessoas foram abrigadas temporariamente em um ginásio esportivo.
O governo socialista do presidente François Hollande chegou ao poder há um ano prometendo melhorar a relação do poder público com os ciganos (também conhecidos como "roms" ou românis), dar fim a favelas e realocar e integrar desalojados.
Mas, depois de criticar o governo anterior de Nicolas Sarkozy (de centro-direita) por ser descuidado com os direitos individuais e flertar com a extrema direita anti-imigrante, o governo Hollande pouco fez para mudar a política em relação aos ciganos.
O ministro do Interior, Manuel Valls, que foi elogiado por sua capacidade de organização e rigidez, expulsou pelo menos tantos ciganos não franceses do país quanto seu antecessor e continua mandando a polícia desmontar acampamentos ilegais e favelas, sem reacomodar a maioria dos desalojados.
Em 1° de janeiro, as regras vão mudar, quando romenos e búlgaros, sete anos depois de entrarem na União Europeia, terão o mesmo direito que as demais nacionalidades de viajar e trabalhar nos países membros.
Mas isso não os tornará bem-vindos -a maioria dos imigrantes ciganos ilegais vem desses dois países. Impulsionada por partidos anti-imigrantes e nacionalistas da direita e extrema direita em toda a Europa, a próxima mudança levantou novos temores de um influxo de trabalhadores pobres e criminosos que queiram tirar os empregos dos cidadãos e se beneficiar do sistema de bem-estar social.
"Em princípio, as coisas mudaram na França, mas, na prática, estão mais ou menos iguais", disse Dezideriu Gergely, do Centro Europeu de Direitos dos Roms, em Budapeste, na Hungria. "Esperávamos uma abordagem diferente, para reduzir a exclusão social e os problemas econômicos, em vez de mudar o problema de um lugar para outro."
A complexidade e a tragédia do problema são facilmente visíveis em Paris na Gare du Nord, um dos mais movimentados polos de transporte ferroviário da França. Pequenos, magros, muitas vezes usando roupas coloridas como calças verdes e cachecol rosa, os jovens ciganos vagam em busca de trabalho como prostitutos.
Alguns têm apenas 14 anos, embora insistam que são mais velhos. Alguns têm 16 anos e são casados, às vezes com filhos. Eles vêm de uma comunidade ao redor de Craiova, no centro-sul da Romênia. Perambulam na estação para ganhar a vida e dizem que conseguem cerca de 100 euros por dia (cerca de R$ 290,00).
Um homem chamado Ruset disse que tem 19 anos e deixou a Romênia ainda criança. Ele e seus amigos "fazem negócios" na estação, disse. Eles vivem em barracos construídos em uma floresta a leste de Paris.
"A França é terrível para nós", disse Ruset, atento para a polícia, que ele chama de "super-racista: nos assedia o tempo todo". Ecoando muitos dos estimados 20 mil ciganos não franceses, ele disse: "Eu gostaria de ficar na Romênia, mas não há possibilidade de trabalho por lá. Gostei muito da França no início, mas hoje as coisas estão muito ruins".
Apesar da próxima mudança de regulamento, as expulsões estão aumentando. Em 2012, 12.841 cidadãos da Romênia e da Bulgária, quase todos ciganos, foram deportados da França, comparados com 10.841 em 2011, um aumento de 18,4%, segundo o Ministério do Interior.
Enquanto o governo Sarkozy ofereceu passagens aéreas e 300 euros para cada adulto e 100 euros por criança para provocar uma repatriação "voluntária", o governo Hollande considerou o sistema perverso e dispendioso. Mas Paris ainda oferece 50 euros por adulto e 30 euros por criança, disse Valls, enfatizando que a França está financiando "80 microprojetos" na Romênia "para melhorar as condições de vida".
Alexandre Le Clève, ex-diretor da Hors la Rue [fora da rua] e membro da Romeurope [Europa cigana], associações que trabalham para melhorar a vida dos ciganos, disse que sua situação piorou desde a entrada da Romênia na UE. "Os ciganos perderam certos direitos, como a ajuda médica estatal, que tinham como estrangeiros não membros da UE."
As novas regras, disse Le Clève, "vão salientar as contradições desse governo". Os ciganos muitas vezes tiveram negada a habitação, em parte por terem pele escura, disse. "O problema é que eles são muito visíveis. Mas institucionalmente são invisíveis."

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