quinta-feira, 4 de julho de 2013

Caso Evo gera reação latina contra Europa

Caso Evo gera reação latina contra Europa
Para Dilma Rousseff, constrangimento imposto pelo bloqueio ao avião do presidente boliviano atinge toda a região
Ele foi impedido de sobrevoar alguns países europeus por possível suspeita de levar delator; Unasul se reúne hoje
BERNARDO MELLO FRANCODE LONDRESISABEL FLECKDE SÃO PAULO

O bloqueio que impediu o avião do presidente boliviano, Evo Morales, de entrar no espaço aéreo de França, Itália, Espanha e Portugal criou ontem uma crise diplomática entre países da América Latina, Europa e Estados Unidos.
O avião, vindo de Moscou, onde Morales participou de uma conferência sobre energia, foi obrigado a mudar de rota anteontem após ter a passagem impedida por rumores de que transportava Edward Snowden, ex-técnico da CIA que revelou um esquema de espionagem americano.
Líderes de países latinos, entre eles Brasil, Argentina, Cuba, Equador e Venezuela, condenaram o episódio.
A presidente Dilma Rousseff disse em nota que o constrangimento imposto a Morales atinge "toda a América Latina" e afeta "o diálogo entre os dois continentes e possíveis negociações entre eles".
Em telefonema ao colega boliviano, David Choquehuanca, o chanceler Antonio Patriota condenou a "atitude arrogante" dos europeus.
Para a presidente argentina, Cristina Kirchner, o tratamento foi "humilhante".
O caso se dá num momento em que o Mercosul --bloco no qual a Bolívia está ingressando como membro pleno-- negocia acordo de livre-comércio com a União Europeia.
Hoje, chefes de Estado e ministros da Unasul (União de Nações Sul-americanas) reúnem-se em Cochabamba (Bolívia) para discutir o tema.
A Bolívia acusou os europeus de violar leis internacionais. Bolivianos protestaram diante de embaixadas estrangeiras e queimaram uma bandeira da França em La Paz.

DESCULPAS

À noite, um porta-voz do governo francês disse que o chanceler Laurent Fabius pediu desculpas pelo episódio.
Em Berlim, o presidente francês, François Hollande, disse ter liberado o espaço aéreo assim que soube que Morales estava a bordo. "Havia informações conflitantes sobre os passageiros", afirmou.
La Paz acusou os EUA de ordenarem o bloqueio e colocarem Morales em risco.
O governo americano admitiu ter mantido contato com países sobre voos que poderiam transportar Snowden, que fugiu de Hong Kong para Moscou após vazar informações confidenciais dos EUA.
"Em nenhuma hipótese um avião oficial com um presidente a bordo pode ser desviado de sua rota", disse o embaixador boliviano na ONU, Sacha Llorenti Soliz.
A aeronave decolou de Moscou anteontem e faria escala para reabastecimento nas Ilhas Canárias (Espanha).
Diante do bloqueio do espaço aéreo e com pouco combustível, o comandante precisou pousar em Viena, onde ficou 14 horas, até que sua rota fosse enfim autorizada.
A Áustria disse que Morales permitiu uma inspeção e Snowden não foi encontrado.
Antes de seguir para La Paz, o avião fez ainda uma parada de uma hora e meia no aeroporto de Fortaleza, onde Morales aguardou o reabastecimento em uma sala VIP.

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