Não é surpresa dizer que a nossa sociedade beneficia o homem com certa liberdade quando o assunto é traição. É como se a atitude dele fosse mais aceita e, muitas vezes, até valorizada, o que ajuda a levantar as suspeitas de que, quando eles traem, sentem menos culpa do que as mulheres. Contribui para essa ideia o fato de muitos acreditarem que o homem tem maior facilidade de separar sexo de sentimento. Mas será mesmo que traição sem culpa é uma característica masculina?
A pesquisa Mosaico Brasil, realizada em 2008 e coordenada pela médica psiquiatra Carmita Abdo, fundadora e coordenadora do ProSex (Programa de Estudos em Sexualidade) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, aponta que a infidelidade feminina cresceu nos últimos anos, enquanto a masculina, mesmo que na liderança, se mantém, de certa forma, estável.
De acordo com o estudo, que contou com 8.200 entrevistas em 10 capitais nacionais, 49,5% das casadas com idade entre 18 e 25 anos revelaram que traem seus maridos. Um salto em relação ao número de confissões de mulheres de 40 a 50: dessa faixa, 34,7% assumiram a traição. Apenas 22% das mulheres com mais 70 admitiram terem sido infiéis.
Entre os homens de 18 e 25 anos, cerca de 65% se dizem infiéis. Na faixa entre os 40 e 50, o número aumenta para aproximadamente 70%. Já entre os 60 e 70, o índice é de cerca de 75%.
Embora os homens ainda se digam muito mais infiéis do que as mulheres, tal estatística mostra que a nova geração feminina tem maior tendência a viver relacionamentos às escondidas e revela que a falta de culpa deixa de ser uma característica tipicamente masculina. "Hoje em dia, elas também traem sem culpa nenhuma. Vejo isso no consultório", afirma a psicóloga e terapeuta sexual Carla Cecarello, coordenadora do Projeto AmbSex (Ambulatório de Sexualidade), entidade voltada a pesquisa e orientação do público a respeito de temas da sexualidade.
Isso não significa somente vulnerabilidade por carência e nem que ela esteja necessariamente em busca de outro homem para se envolver e terminar o seu casamento. A mulher está mais exigente e já percebeu que é raro achar um único homem que atenda às suas diferentes expectativas. "Elas querem se sentir felizes, amadas, colocar em prática seus desejos sexuais e, muitas vezes, estão atrás de algo que o parceiro não oferece a elas", afirma Carla.
Outro motivo que pode levar a essa mudança de comportamento é que, hoje, a mulher tem vida própria e, por estar no mercado de trabalho, tem maiores oportunidades de flerte, segundo a psicóloga e terapeuta sexual Arlete Gavranic, coordenadora do curso de Sexualidade Humana do Instituto ISEXP (Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia e Medicina Psicossomática). "Essa mulher não carrega muita culpa, pois administra melhor o que está fazendo", diz ela.
Incentivo à traição
Nossa cultura atual também acaba incentivando a infidelidade. "Toda propaganda nos diz para fazermos o que for preciso para sermos felizes e obtermos nossa cota diária de orgasmos múltiplos", diz Priscilla.
A rede de encontro extraconjugais Ashley Madison, presente em 26 países, está aí para confirmar: o site, inaugurado no Brasil em 2011, promove encontro sigilosos para quem quer viver experiências fora do casamento.
Além disso, há uma abordagem direta de estabelecimentos que estimula as traições. "Motéis ao lado de escritórios que fazem promoções na hora do almoço, por exemplo, são quase um convite à infidelidade", diz Arlete.
Outro exemplo é o Bang with Friends, polêmico aplicativo do Facebook que dá a possibilidade de convidar amigos para relações sexuais. Apesar de não ter sido criado para incentivar a traição, o meio facilita a busca pelo sexo casual e tem sido adotado também por pessoas casadas.
Com tantas ofertas de prazer, as possibilidades de pular a cerca aumentaram e a culpa já não é mais um grande peso nem para os homens, nem para as mulheres.
Texto de Camila Dourado no UOL Mulher.
Nenhum comentário:
Postar um comentário