quinta-feira, 13 de junho de 2013

Igrejas tradicionais do Harlem perdem fiéis



Os turistas começaram a fazer fila duas horas antes do início do culto na West 116th Street, no Harlem. A maioria trajava roupas casuais, formando um contraste com os ternos escuros e vestidos modestos da congregação, majoritariamente afro-americana, no santuário histórico da Igreja Batista Canaan.
Num domingo recente, o pastor-assistente distribuía sorrisos e apertos de mão. Os turistas foram conduzidos a um balcão até lotarem os assentos do local, como acontece em várias igrejas no Harlem. Na plateia, onde a congregação vem diminuindo nos últimos anos, ainda havia vários lugares vagos.
Apesar de serem uma atração para turistas, igrejas como a Canaan enfrentam dificuldades. No cerne do problema está uma contradição: ao mesmo tempo em que o Harlem enriquece, o pagamento do dízimo, fonte tradicional de recursos das igrejas, está desaparecendo.
A base histórica de afro-americanos do Harlem vem encolhendo. Os que continuam a viver no bairro sempre pagaram o dízimo regularmente, reservando 10% de sua renda para sua igreja, em tempos bons ou ruins. Mas também isso vem mudando.
O reverendo Jesse T. Williams Jr., pastor sênior da Igreja Batista Convent Avenue, declarou que "doar é uma forma de adoração, é uma expressão de agradecimento a Deus por tudo o que Ele nos dá". Em sua igreja, disse o pastor, os dízimos pagos diminuíram 12% nos últimos anos.
A igreja Canaan tem hoje mil fiéis. Desde 2000, perdeu 500. Sem os turistas, comentou Harris, o pastor sênior "pregaria para um balcão vazio". O valor recebido em dízimos diminuiu 20%, apesar de outras contribuições terem se mantido estáveis. Não está claro que parcela desses valores vem dos turistas.
De acordo com Debora C. Wright, executiva-chefe do Banco Federal de Poupança Carver, algumas igrejas perderam até 50% de sua receita de dízimos, o que as levou a pedir empréstimos de seu banco.
Para o reverendo Thomas D. Johnson Sr., que celebrou seu sétimo ano como pastor sênior na Canaan, a igreja vive "um período de transição". "Acredito que a Canaan e todas nossas igrejas fortes no Harlem estão decididas a não desaparecer", disse o pastor. "Essa instituição precisa sobreviver, não apenas pela congregação, mas por quem representamos."
A história da igreja Canaan e de suas dificuldades atuais é semelhante às de muitas outras igrejas do Harlem. Ela foi fundada em 1932 nos moldes de uma igreja de campo. Muitos dos primeiros fiéis eram migrantes vindos do sul do país, que tinham sido meeiros nos tempos da segregação racial e estavam imbuídos da tradição de adoração religiosa. Com a chegada de mais famílias, a igreja cresceu.
O pastor anterior, o reverendo Wyatt Tee Walker, liderou a igreja por quase 40 anos, até se aposentar em 2004. Ele foi um dos arquitetos do movimento dos direitos civis e assistente do reverendo Martin Luther King Jr.
Sob a direção de Walker, o número de fiéis cresceu tanto que era preciso colocar cadeiras nos salões da igreja.
Mas a igreja Canaan que Johnson herdou é muito diferente. O bairro também mudou. Onde antes os afro-americanos formavam a maioria da população do Harlem central, hoje são menos da metade. Residências de alto padrão e restaurantes da moda se destacam entre bolsões resistentes de pobreza.
Nos últimos anos, faltou comida nos centros de distribuição de alimentos, agravaram-se problemas de construção e secaram os fundos que ajudam a população carente a pagar seus aluguéis ou contas de eletricidade. Algumas iniciativas comunitárias foram paralisadas. Quando os pastores lançam apelos, os fiéis sempre buscam atendê-los. Apesar de as igrejas possuírem imóveis no Harlem, onde os valores dos imóveis vêm subindo, suas operações estão vinculadas aos fiéis.
Johnson comentou: "É chocante caminhar pelo Harlem e ver pessoas passando por dificuldades enquanto do outro lado da rua, literalmente, pessoas levam cachorrinhos de madame para passear e saem de apartamentos de alto padrão. Precisamos aproximar esses dois lados da população. Precisamos construir essa ponte".


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