A plataforma de leitura eletrônica Kobo divulgou as estatísticas de 2014 acompanhando seus livros eletrônicos de maior venda e com que frequência os leitores terminaram os títulos que adquiriram.
No ano passado, o lançamento da adaptação feita por Hollywood do romance de Gillian Flynn "Garota exemplar", de 2012, impulsionou o livro para a lista dos mais vendidos em vários países pelo mundo. Milhões de pessoas o compraram, mas quantas realmente leram o livro até o fim?
Kobo é uma plataforma de leitura com sede em Toronto, que oferece livros digitais para 23 milhões de pessoas em 190 países e é concorrente do Kindle, da Amazon. A empresa divulgou recentemente as estatísticas de 2014 mostrando seus livros mais vendidos e com que frequência os leitores terminaram os títulos que compraram.
No Reino Unido, por exemplo, "Garota exemplar" foi o terceiro título mais vendido da Kobo, mas apenas 46% dos leitores que compraram o livro chegaram ao fim. Índices de conclusão semelhantes foram registrados para outros best-sellers, como o romance erótico de James E.L. "Cinquenta tons de cinza" (48%) e o suspense literário de Donna Tartt "O pintassilgo" (44%).
Na França, o lamento provocativo de Éric Zemmour sobre o declínio cultural e geopolítico do país, "Le Suicide Français" (em tradução livre, "o suicídio francês"), pode ter sido um grande sucesso em termos de vendas, mas apenas 7% dos leitores franceses da Kobo conseguiram terminar o livro.
Os índices de conclusão variam muito, dependendo do gênero: romance e mistério apresentam os maiores índices, enquanto religião e não-ficção apresentam os menores.
Na Itália, 74% dos romances comprados via Kobo foram terminados --o melhor índice de conclusão de qualquer gênero em todos os mercados da Kobo, em comparação com 62% na América do Norte e 60% na Austrália e Nova Zelândia.
Michael Tamblyn, presidente da Kobo e diretor de conteúdo, observou que cada gênero é lido de forma diferente, o que pode explicar algumas das disparidades. "Diferentes tipos de livros têm diferentes padrões de leitura", disse ele. "Os romances são lidos da capa à contracapa, mas uma obra de não-ficção talvez seja apenas folheada em busca de dados e não totalmente lida."
Do ponto de vista empresarial, pode parecer irrelevante entender quais livros os leitores tendem a terminar. "Pode-se argumentar que, uma vez vendido o livro, pouco importa o que os leitores acharam dele?", questiona o relatório da empresa divulgado junto com os dados. "Mas conhecer aquilo que os leitores acham envolvente e aquilo que não acham pode ajudar os editores a liberar títulos de suas listas de publicação e tomar decisões informadas na hora de investir em autores e franquias."
A empresa deu um exemplo de livros que, apesar das vendas baixas, tiveram índices de conclusão muito elevados. "É evidente que os leitores que se depararam com estes livros os adoraram. Ou seja, talvez a equipe de marketing ou o departamento editorial não tivesse vislumbrado um vencedor entre esses títulos, mas o leitor sim."
Mas nem todos na comunidade literária consideram uma coisa boa a capacidade de rastrear o envolvimento do leitor. Francine Prose imaginou um futuro não muito distante, no "New York Review of Books", em que "os autores (e seus editores) enfrentam reuniões nas quais o departamento de marketing informa-lhes que 82% dos leitores perderam o interesse em suas memórias na página 272. E que se quiserem ter outro livro publicado, aquilo que acontece naquela página nunca deverá se repetir".
Texto de Stephen Heyman, para o International New York Times, reproduzido no UOL. Tradutor: Deborah Weinberg
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