Nestes dias de Carnaval e de investigação histórica no setor público, a corrupção invade o cotidiano nas ruas, no noticiário e na programação cultural. Muitas vezes a arte é canal de lavagem de recursos de origem ilícita. Poucas vezes, como agora, acaba sendo beneficiada por eles.
Nesta quarta (11), mais 48 obras de arte apreendidas na última fase da Operação Lava Jato foram entregues ao Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Entre elas, há quadros de Salvador Dalí, Vik Muniz, Amilcar de Castro e Romero Britto. Desde janeiro, o museu já expõe 15 obras, de nomes como Di Cavalcanti, Iberê Camargo, Cícero Dias, Aldemir Martins e Heitor dos Prazeres, entre outros. A maioria apreendida na casa da doleira Nelma Kodama.
No Rio, está em cartaz no Museu Nacional de Belas Artes a exposição "Apreensões e Objetos do Desejo: Obras doadas pela Receita Federal ao MNBA". A visita vale como restituição do IR. São 20 obras de arte apreendidas em dois contêineres vindos dos EUA, avaliadas em cerca de R$ 10 milhões. Os donos, não identificados, tentavam burlar o fisco importando-as como tranqueiras.
Em uma grande sala é possível ver produção do indiano Anish Kapoor declarada à Receita como reles "antena parabólica", por exemplo. Ou a instalação de Niki de Saint Phalle batizada de "Falcão Azul", bela imagem da ave de rapina, símbolo dos que tentaram importá-la. Há quadros ou serigrafias de Beatriz Milhazes, Sérgio Camargo, Victor Vasarely, Jorge Guinle, Ivan Navarro e outros.
Entre os absurdos das operações contra corruptos e corruptores, a possibilidade de contemplar em espaço público obras adquiridas por malversação e vaidade é reconfortante. Pena que, assim como a maioria dos museus da cidade, o MNBA despreze milhares de turistas que poderiam gostar de algo mais do que Carnaval. Fechará nos dias de folia.
Texto de Paula Cesarino Costa, na Folha de São Paulo.
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