O Carnaval brasileiro teria muito menos graça se não tivessem existido Lamartine Babo (1904-1963) e Braguinha (1907-2006), nossos dois maiores criadores de músicas para a festa. Às vezes, no entanto, parece que, exatamente por serem os reis das marchinhas (embora tenham feito de tudo um pouco), eles são vistos como compositores menores, superficiais.
Talvez o politicamente correto atrapalhe. Deve haver hoje quem se constranja em cantar "O Teu Cabelo Não Nega", por considerá-la racista. No mesmo ano desse estouro, 1932, Lamartine também fez sucesso com "Só Dando com uma Pedra Nela", cujo título já diz tudo. Outros tempos, outros Carnavais.
Recebeu atenção muito inferior à merecida o lançamento, em 2014, de "Tra-la-lá - Vida e Obra de Lamartine Babo". Em suas quase 900 páginas, há tudo o que é preciso saber sobre o autor de "Joujoux e Balangandãs".
O pesquisador Suetônio Soares Valença fizera edições do livro em 1981 e 1989. Morreu em 2006 sem concluir a definitiva. A missão ficou com sua ex-mulher, a também perfeccionista pesquisadora Rachel Valença. O resultado está à altura da grandeza de Lamartine.
Para completar, falta agora outro pesquisador, Omar Jubran, conseguir patrocínio e lançar a caixa de 15 CDs com as gravações originais de 252 composições de Lamartine, trabalho feito ao longo de dez anos (2003 a 2013). Jubran já realizou caixas com as primeiras interpretações de músicas de Noel Rosa e Ary Barroso. Tem pronta a de Adoniran Barbosa e está começando a pesquisa para a de Wilson Baptista.
Nos próximos quatro dias, ao menos, não será difícil se lembrar de Lamartine. Ele estará pelas ruas representado por "Linda Morena", "História do Brasil", "Cantores do Rádio", "Grau Dez" e outras odes à alegria. E, ainda, pelos hinos de todos os grandes clubes de futebol do Rio.
Texto de Luiz Fernando Vianna, na Folha de São Paulo.
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