O sociólogo alemão Hartmut Rosa é um dos pensadores atuais que merecem atenção. Ele publicou poucos livros até agora, mas o debate de suas ideias cresce a cada dia, em especial as expostas em "Aceleração Social: Uma Nova Teoria da Modernidade" (na tradução do título da edição americana de "Beschleunigung: Die Veränderung der Zeitstrukturen in der Moderne").
O título já antecipa o conteúdo rico e complexo do estudo, que aqui evoco livremente. Rosa propõe uma "sociologia sistemática do tempo" para explicar a era moderna como o confronto entre as forças de aceleração (as revoluções técnicas, as mudanças sociais e o ritmo de vida) e as instituições (direito, mecanismos de governança, família etc.).
As instituições servem para tornar a experiência da aceleração capitalista tolerável aos indivíduos e para garantir a eles segurança no presente e confiança nas expectativas de futuro. Quando se tornam um entrave à aceleração, as instituições são forçadas a se transformar, adaptando-se às mudanças sociais e gerando novas estabilizações.
Hoje, porém, a aceleração do ritmo de vida ganha tal proporção que as instituições, incapazes de se transformar e impor qualquer resistência às forças desestabilizadoras, começam a entrar em colapso.
A aceleração também intensifica a alienação do indivíduo, presa que ele é de uma celeridade que não controla, esvazia seus conteúdos, o impede de aprofundar relações e dificulta o planejamento da vida no longo prazo. É o curto prazo que predomina, seja no cotidiano pessoal e coletivo, seja no exercício institucional da política.
A impossibilidade de submeter todas as esferas sociais a uma aceleração idêntica à do ritmo dominante de vida gera uma série de "dessincronizações" --principalmente entre as esferas técnico-científica e econômica, de um lado, e política e educacional, de outro.
Escreve Hartmut Rosa: "O ritmo acentuado das mutações socioeconômicas e tecnológicas excede permanentemente as possibilidades das estruturas e dos horizontes temporais da política democrática e deliberativa, que tende ela mesma, na sociedade da aceleração, e justamente em razão da forte dinâmica social, a reduzir o ritmo dos processos de formação da vontade e da tomada de decisão".
Isso explicaria talvez o desânimo de muita gente com a lentidão da classe política e o crescente alheamento desta classe em relação às urgências do mundo atual. Também explicaria tanto a expansão do conservadorismo no mundo --devido, em parte, à dificuldade de as pessoas entenderem a realidade complexa e mutante--, quanto a impotência das esquerdas para fixar um projeto de futuro comum para grupos sociais com demandas tão imediatas e heterogêneas.
Texto de Alcino Leite Neto, na Folha de São Paulo.
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