Eles ergueram os braços e fizeram o "V" de vitória, sendo que a campanha mal começou. Nunca na história política de Israel os partidos que representam os eleitores árabes (minoria que constitui 20% da população do país) haviam conseguido apresentar uma lista única nas eleições legislativas, como acontecerá no dia 17 de março. O partido comunista Hadash e os três partidos árabes - Movimento Islâmico, Ta'al (Movimento Árabe para Renovação) e os nacionalistas do Balad – oficializaram sua aliança no dia 22 de janeiro, após longas semanas de negociações. As rivalidades e as diferenças históricas continuam, uma estratégia em comum custa a surgir, mas essa é uma rara boa notícia para esse eleitorado esquecido.
Era uma questão de sobrevivência. Em 2014, o mínimo exigido para entrar na Knesset (o Parlamento israelense) passou de 2% para 3,25%, ameaçando os pequenos partidos. "A união se tornou para nós um caso de força maior", explica Ahmed Tibi, líder do partido Ta'al. As pesquisas indicam que a lista unificada teria um resultado superior às 11 cadeiras que os partidos árabes detinham separadamente na atual Knesset. Mas o Likud, do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, e o Campo Sionista (centro-esquerda), composto por trabalhistas e pela Hatnuah, estão empatados. Os deputados árabes poderiam então ter um papel determinante na formação de uma coalizão, logo após a eleição.
No entanto, a lista unificada não está disposta a se unir a um governo de centro-esquerda. "Nesse caso eu teria de assumir a responsabilidade por todas as ações do governo", ressalta Ahmed Tibi. "Por exemplo, se ele continuar destruindo casas árabes em Israel, confiscando nossas terras, ou se ele decidir bombardear Gaza novamente". Em compensação, a lista árabe poderia negociar seu apoio a tal governo, para pôr um fim à era Netanyahu. "Podemos discutir essa possibilidade após a eleição", diz Tibi, "como parte das negociações sobre o orçamento, a infraestrutura, a moradia, a questão dos prisioneiros, a mesquita de Al-Aqsa".
A situação de Haneen Zoabi (Balad) por enquanto impede qualquer aproximação entre o Campo Sionista e a lista árabe unida. O Campo Sionista quer impedir o mandato dessa polêmica deputada. Ela ficou conhecida em 2010 ao subir a bordo do navio turco Mavi-Marmara, que havia tentado romper o bloqueio de Israel à Faixa de Gaza. Devido às suas excentricidades, Haneen Zoabi serve como um pretexto perfeito para a direita nacionalista dar mostras de patriotismo sem grande esforço, criticando-a. No fim de julho de 2014, o comitê de ética da Knesset proibiu que ela se dirigisse a seus pares durante seis meses. Ela havia declarado que os sequestradores de três adolescentes na Cisjordânia, cujo destino comoveu o país, não eram terroristas.
Frustração
Nos últimos quinze anos, uma dupla frustração tem afetado os árabes israelenses. A primeira vem do Estado, que os exclui dos empregos nas empresas públicas e na administração, não respeita sua memória e seus direitos à propriedade, e não garante sua segurança. Esses cidadãos se creem discriminados e ainda suspeitos de uma falta de lealdade em relação à comunidade nacional. Eles também entendem que a criação cada vez mais hipotética de um Estado palestino não resolveria seus problemas.
A outra frustração vem de seus próprios representantes árabes. Apesar de uma dinâmica unitária, seus partidos parecem condenados a um papel tradicional de figurantes. Eles não participam do governo. A maioria judaica os tolera, mas não questiona seu próprio monopólio político e simbólico. O Sétimo Olho, site especializado em análise crítica da mídia, observou um detalhe significativo. Foi só no começo de fevereiro que o rosto de Ayman Odeh, líder da lista árabe unida, passou a aparecer no banner de apresentação da cobertura sobre a campanha do jornal "Israel Hayom".
"Os deputados árabes não têm influência na política de Israel", observa Amal Jamal, professor de ciência política na Universidade de Tel-Aviv. "Eles vão às eleições unicamente para debater a alocação de recursos. Eles chegam à Knesset sem a experiência de grandes grupos industriais, nem do exército. Então eles não têm redes e não conseguem influenciar na política da eletricidade, da água e da saúde. É por isso que eles se refugiam na ideologia: para mascarar sua impotência".
Reportagem de Piotr Smolar, para o Le Monde, republicada no UOL.
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