sexta-feira, 7 de junho de 2013

Reino Unido pede perdão por repressão violenta no Quênia


Reino Unido pede perdão por repressão violenta no Quênia
Governo promete indenizar sobreviventes de revolta que matou 12 mil; avô de Obama, que morreu em 1979, foi um dos torturados

Depois de mais de meio século, o governo do Reino Unido fez um pedido formal de desculpas e anunciou ontem que vai indenizar 5.228 sobreviventes da repressão violenta ao movimento pela independência do Quênia.
A revolta dos Mau Mau se arrastou de 1952 a 1963. A reação do Império Britânico deixou ao menos 12 mil mortos e uma das mais profundas cicatrizes do processo de descolonização da África.
Tropas britânicas mantiveram milhares de quenianos em campos de trabalhos forçados, semelhantes aos gulags soviéticos, e usaram a tortura de forma disseminada para sufocar a guerrilha.
Entre as vítimas de maus-tratos estava Hussein Onyango Obama, avô paterno do presidente dos EUA, Barack Obama. Ele sobreviveu ao conflito e morreu em 1979.
O chanceler britânico, William Hague, afirmou que o Reino Unido pagará 19,9 milhões de libras (cerca de R$ 65 milhões) a sobreviventes que pediram reparação.
"O governo britânico reconhece que quenianos foram vítimas de tortura e maus-tratos nas mãos da administração colonial. Lamentamos que os abusos tenham ocorrido e prejudicado a independência do Quênia", disse.
"Tortura e maus-tratos são violações abomináveis da dignidade humana, que condenamos integralmente", acrescentou o ministro.
O anúncio representa uma guinada do governo britânico, que sempre negou culpa pelos crimes e alegava que as vítimas deveriam pedir reparação ao governo do Quênia.
O premiê David Cameron foi obrigado a negociar após um tribunal superior em Londres dar ganho de causa, em 2011, a quatro sobreviventes que processaram o Reino Unido pelos maus-tratos.
O grupo incluía um idoso que foi castrado e uma senhora abusada sexualmente por soldados britânicos. Uma das vítimas morreu antes do anúncio das indenizações.
"Não é suficiente diante dos abusos que nós sofremos, mas aceitamos porque é melhor do que nada", disse o sobrevivente Mathenge Wa Ireri, entrevistado pela BBC.
A pressão sobre o governo britânico teve apoio do arcebispo sul-africano e Nobel da Paz Desmond Tutu e de entidades de direitos humanos.


Reportagem de Bernardo Mello Franco, para a Folha de São Paulo.

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