quinta-feira, 6 de junho de 2013

"A instabilidade na Venezuela deve acelerar as reformas em Cuba", diz economista cubano


Carmelo Mesa-Lago (nascido em Havana em 1934) é uma figura indispensável para se interpretar a Cuba de ontem e de hoje. Exilado desde 1961, é professor emérito na Universidade de Pittsburgh (EUA) e publicou mais de 85 livros, muitos deles sobre seu país. Sempre a favor do diálogo e da moderação, chega à Espanha para apresentar - em 6 de junho na Casa de América - "Cuba na era de Raúl Castro: Reformas econômico-sociais e seus efeitos".
El País: Existem realmente uma era Raúl e uma era Fidel?
Carmelo Mesa-Lago: Há elementos chaves que persistem no governo de Raúl, especialmente políticos, como o partido único, as eleições sem oposição, o controle da livre expressão, etc. Por outro lado, as reformas estruturais de Raúl são as mais profundas, sustentadas e voltadas para o mercado realizadas sob a revolução, consideravelmente mais avançadas que as de Fidel nos períodos 1971-1985 e 1991-1996, depois revertidas. Mas a probabilidade de reversão das reformas atuais é muito menor.
El País: É correto falar em uma transição cubana?
Mesa-Lago: Depende de como se defina "transição". Se a usarmos no sentido convencional, ou seja, a mudança para uma economia de mercado e democracia pluralista ocorrida na Europa Oriental depois do colapso da União Soviética, a resposta é não. Mas se compararmos a Cuba de hoje com a que existia em 2006, há uma transição econômica, embora não possa prever para onde.
El País: Cuba avança para o modelo chinês ou o vietnamita?
Mesa-Lago: Cuba ainda está muito longe dos modelos chinês e vietnamita, em que o mercado e a empresa privada são os setores mais dinâmicos da economia, e o plano não é centralizado, senão um guia. A receita proposta em Cuba não deu resultado em países socialistas da Europa Oriental, como Hungria, Polônia e Iugoslávia, embora estivessem melhor que a própria União Soviética.
El País: Que importância o senhor dá às recentes mudanças migratórias?
Mesa-Lago: Não há dúvida de que a lei de migração é um passo importante. A saída de Yoani Sánchez e de outros dissidentes e o impacto que suas viagens tiveram é um indício de mudança política. Aqueles que alegam que é uma medida para mostrar uma face tolerante ao exterior ou estão cegados por sua ideologia ou ignoram as repercussões reais da medida.
El País: Como o fator Venezuela afetará as reformas em Cuba?
Mesa-Lago: A relação econômica de Cuba com a Venezuela é vital: 42% do intercâmbio comercial de mercadorias da ilha, 44% do déficit total da balança comercial, fornecimento de 62% do petróleo consumido por Cuba, compra de serviços profissionais cubanos próxima de 4 bilhões de euros anuais e investimentos diretos substanciais. Ao todo, equivale aproximadamente a 21% do PIB, semelhante à relação com a URSS em seu melhor momento. A aceleração das reformas desde outubro de 2012 pode ter sido influenciada pela grave doença de Chávez. E a polêmica eleição de Nicolás Maduro e a instabilidade política subsequente, agravada pela severa deterioração da economia, poderiam afetar a citada relação com efeitos devastadores para Cuba. Diante desses riscos e problemas, o lógico seria aprofundar e acelerar as reformas.
Entrevista feita por Mauricio Vicent, para o El País, reproduzida no UOL. Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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