Na roda de amigos da livraria Folha Seca, está o historiador Luiz
Antonio Simas elogiando o samba de enredo do Império Serrano sobre o
poeta Manoel de Barros. A escola de Madureira é uma das paixões de
Simas, ao lado do Botafogo, do Bafo da Onça e, não por último, da
Emilinha Borba. A conversa logo deriva para a política - parece
impossível fugir dela hoje em dia -, mais especificamente para a
repressão aos atos contra Michel Temer.
O historiador volta no tempo ao falar das polícias militares. A do Rio
de Janeiro, criada pelo príncipe regente dom João no início do século
19, traz como símbolos um pé de açúcar, um pé de feijão, duas armas e a
coroa imperial. "Era um braço armado em defesa da propriedade e do
poder", analisa Simas.
A de São Paulo tem origem em 1831, como Corpo de Guardas Municipais
Permanentes, durante o período da Regência. Seu brasão é composto por 18
estrelas, simbolizando rebeliões e guerras em que a corporação se
envolveu. A oitava delas representa a campanha contra Canudos, a nona a
participação na Revolta da Chibata, a décima a repressão à greve
operária de 1917, e a décima oitava comemora o triunfo da então chamada
revolução de 1964:
"Um massacre de camponeses, uma luta contra marujos que combatiam o fim
de castigos corporais, um cacete contra grevistas e o apoio ao golpe
militar, com posterior envolvimento na máquina de torturas dos porões",
explica o historiador.
Simas é direto em sua conclusão: "A única solução para a PM, com sua
soldadesca de maioria pobre e negra, é a extinção ou a refundação. A
discussão sobre o que deu errado na polícia parte de um pressuposto
equivocado. O problema da PM não é ter dado errado. É ter dado certo".
Depois de um tempo, alguém quebra o silêncio, perguntando: "E o Botafogo, hein?"
Texto de Álvaro Costa e Silva, na Folha de São Paulo.
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