Uma corte egípcia sentenciou hoje 683 supostos seguidores da Irmandade
Muçulmana à morte, incluindo Muhammad Badie, o líder supremo dessa
organização islamita.
É o segundo forte golpe dado pelo Judiciário nos aliados do
ex-presidente Mohammed Mursi, deposto em julho de 2013. Em março deste
ano, o mesmo juiz havia sentenciado 529 islamitas à morte.
As penas precisam, no entanto, ser avaliadas pela liderança religiosa no
país e então confirmadas pela corte. Dos 529 islamitas condenados à
morte em março, apenas 37 tiveram a sentença confirmada ontem. Os demais
foram sentenciados a 25 anos de prisão.
Organizações internacionais condenaram o julgamento como tendo carecido
de "garantias básicas de um processo justo", de acordo com a Anistia
Internacional. Advogados de defesa boicotaram audiências.
Os réus foram condenados por um episódio de violência em agosto do ano
passado, em enfrentamento com a Polícia. Segundo o governo, islamitas
agrediram as forças de segurança e atacaram igrejas ao redor do país.
A decisão da corte causou comoção no lado de fora da corte, com famílias
acusando o governo interino -apoiado pelo Exército- de perseguir
membros da Irmandade Muçulmana.
A organização islamita havia conquistado a Presidência por meio das
primeiras eleições livres do Egito, em 2012. Um ano depois, porém, Mursi
foi deposto do cargo por manifestações populares e pela mão firme do
Exército. Ele está detido desde então.
No último ano, as autoridades egípcias têm entrado em constante conflito
com islamitas, além de ter prendido centenas deles. A Irmandade
Muçulmana foi recentemente considerada uma organização terrorista,
voltando assim aos anos de perseguição política que viveu nas décadas
anteriores.
O governo interino do Egito tem perseguido, também, os jovens do
movimento 6 de Abril, que foram às ruas em 2011 para pedir a deposição
do ex-ditador Hosni Mubarak. O grupo, acusado de espionagem, foi hoje
considerado ilegal e teve as atividades proibidas.
Reportagem de Diogo Bercito para a Folha de São Paulo.
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