Os sinais estão à vista. A disposição de enxergá-los depende de cada um.
1- Numa afronta à democracia, a ministra do Supremo Tribunal Federal
Rosa Weber decide que a CPI da Petrobras tem que ser assim, e não
assado. Pouco importa a decisão do Senado. A propósito, quantos votos
teve a magistrada para imaginar que a opção de milhões de eleitores,
que, mal ou bem, escolheram seus representantes no Congresso, vale menos
que a dela?
2- A Petrobras aprovou uma compra mais do que polêmica de uma refinaria em Pasadena, nos EUA.
Isso já é sabido de todos. Mas alguns detalhes são interessantes: o
conselho que aprovou a operação reunia representantes do "mercado" e do
governo. Uma espécie da tal parceria público-privada sonhada e
idolatrada por 11 entre 10 teóricos neoliberais. Pois bem: onde foram
parar nessa história toda Fábio Barbosa, Cláudio Haddad, Jorge Gerdau,
expoentes do "empresariado" brasileiro que, com Dilma Rousseff e outros,
aprovaram o negócio? Serão convocados a depor, ou deixa pra lá?
3- Num atentado às regras mais elementares da Justiça, o Supremo mantém
encarcerado o ex-ministro José Dirceu em regime fechado, embora
sucessivas sentenças do mesmo tribunal tenham condenado o réu a cumprir
regime semiaberto. Aliás, Dirceu vive uma situação "sui generis": foi
condenado como chefe de uma quadrilha que, depois, o próprio Supremo
concluiu que não existia.
4- Uma promotora do Distrito Federal, Márcia Milhomens Sirotheau Corrêa,
com a maior sem-cerimônia, pede a quebra de sigilo telefônico não
apenas de pessoas determinadas, mas de uma área geográfica que envolve o
Palácio do Planalto, o STF etc., ao melhor estilo NSA de Obama. A
desculpa oficial: apurar se José Dirceu usou ou não um celular na prisão
-na qual, nunca é demais frisar, está detido ilegalmente. Qual a base
para o pedido da sra. Corrêa? Denúncias informais, feitas por gente que
não quis se identificar ou prestar um depoimento. Está certo que nossas
faculdades de direito não são nenhuma maravilha, mas chegar a esse ponto
para justificar a arapongagem desavergonhada é fazer pouco do mais
ingênuo dos brasileiros.
5- Depois de anos e anos, o STF absolve o ex-presidente Fernando Collor
da montanha de crimes de que era acusado. Detalhe: o processado sofreu
um impeachment por causa daquelas acusações, de resto muito mais
evidentes e escancaradas do que, por exemplo, as do chamado mensalão.
Bem, o "caçador de marajás" foi deposto, lembram-se? Dona Rosa Weber vai
querer devolver o cargo a ele?
6- Pouco tempo depois de confessar as atrocidades cometidas durante a
ditadura militar, o coronel reformado Paulo Malhães foi assassinado no
Rio de Janeiro. Malhães é aquele que ensinou como sumia com vestígios
das vítimas na época anterior aos exames de DNA. Bastava tirar a arcada
dentária, cortar os dedos para desaparecer com as digitais e lançar o
cadáver, ou o que sobrou, num rio. Diante disso, não é preciso ser
nenhum Eliot Ness para saber que a morte de Malhães foi uma queima de
arquivo –como, aliás, ele próprio antecipou em seus depoimentos.
Dizem os compêndios: dias antes do golpe militar de 1964, lideranças
pró-governo faziam pouco dos que alertavam para o risco de uma
quartelada contra Jango Goulart. Uma das frases célebres: "Se a direita
levantar a cabeça, ela será cortada". Deu no que deu. As condições são
diferentes, o mundo não é o mesmo, mas, pelo sim, pelo não, é sempre bom
ficar esperto. Ou então esperar mais 50 anos para ouvir outra ladainha
de "autocríticas".
Texto de Ricardo Melo, na Folha de São Paulo.
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