Dilma e Temer estão em guerra aberta, mas afinaram o discurso em um único ponto. A presidente e o vice prometem um grande pacto nacional caso saiam vitoriosos da batalha do impeachment.
"O meu primeiro ato pós-votação é a proposta de um pacto, de uma nova repactuação, sem vencidos nem vencedores", disse a presidente, na entrevista de ontem no Planalto.
"A grande missão é a da pacificação do país, da reunificação do país. É preciso um governo de salvação nacional", conclamou o vice, no áudio que vazou sem querer querendo.
A ideia soa bem, mas tem tudo para ser a primeira promessa descumprida por quem vencer a votação na Câmara. A razão é simples: a sociedade e as forças políticas acordarão mais divididas na segunda-feira.
Se ficar no cargo, Dilma continuará a governar em minoria no Congresso. Isso significa que ela não terá os votos necessários para aprovar reformas ou aumentar tributos.
Esse apoio poderia ser buscado num ambiente de concertação, mas Dilma estará rompida com o vice e a oposição, que chamou de golpistas. Ainda enfrentará a ira de quem foi às manifestações de amarelo e dos empresários que bancaram uma campanha milionária para derrubá-la.
Temer tem mais chance de começar uma nova gestão com maioria no Congresso, mas duelará com uma oposição aguerrida, liderada pelo PT e amplificada por sindicatos e movimentos sociais. Sua ação ostensiva para chegar ao poder aumentará o ressentimento dos derrotados.
Junte isso à "Ponte para o Futuro", que prevê arrocho e cortes de direitos trabalhistas, e imagine as greves e barricadas que vêm por aí. Mesmo que costure um acordão com o andar de cima, Temer precisará recorrer à polícia para conter os insatisfeitos.
Aconteça o que acontecer, o Brasil da semana que vem deve ter a cara da Esplanada dos Ministérios no domingo: dividida por grades de ferro para tentar evitar que as diferenças sejam resolvidas a socos e pontapés.
Texto de Bernardo de Mello Franco, na Folha de São Paulo.
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