O primeiro gol contra Dilma Rousseff foi marcado pela Câmara dos Deputados. É obrigatório dizer que...
...Dilma Rousseff fez avançar como nenhum outro presidente do Brasil a legislação esportiva brasileira.
Além do mais, em sua gestão, nem Ricardo Teixeira, nem José Maria Marin, nem Marco Polo Del Nero tiveram o beneplácito que encontraram em todos, repita-se, todos os governos anteriores, nas duas gestões de Lula, inclusive.
Também já foi dito, aqui, Fernando Henrique Cardoso, graças à obstinação de José Luiz Portella, o "ministro do Futebol", progrediu sensivelmente, com o Estatuto do Torcedor e com a chamada Lei da Moralização do Futebol.
Antes, com a Lei Pelé, também no governo FHC, o país já experimentara passos na direção da modernização, infelizmente dados para trás pelos parlamentares da base do governo quando da regulamentação da lei.
Na gestão de Dilma Rousseff, não.
Com mil dificuldades, e frágil, o governo dela aprovou a Profut, ainda longe do ideal porque sem conseguir passar a sociedade empresária no futebol –agora com a inovadora proposta da Sociedade Anônima do Futebol, ovo de Colombo idealizado pelos advogados Rodrigo Castro e José Francisco Manssur.
O futebol brasileiro é espelho perfeito do país. Poucos se locupletam e as melhores oportunidades são desperdiçadas.
A decisão tomada na Câmara dos Deputados, presidida pelo mais notório dos parlamentares brasileiros, Eduardo Cunha, resultou na vitória do esforço escandaloso para impedir a continuidade da presidenta.
A brilhante jornalista Eliane Brum, com quem tive a alegria de cobrir a última Copa do Mundo, já escreveu que há duas coisas indefensáveis hoje no Brasil: o governo e o impeachment.
O primeiro por todos os seus erros crassos, por suas alianças espúrias que estão dando no que vemos, por suas promessas não cumpridas, pela promiscuidade com o poder econômico, enfim, por tudo que sabemos, embora nada justifique o seu impedimento, manobra feita por corruptos de todas as espécies, contra alguém sem nenhuma acusação de corrupção.
Por isso julgo obrigatório dizer que ela cumpriu todas as promessas feitas sobre a modernização de nosso esporte e será lamentável ver novo retrocesso.
Leitores que não gostam dela, e com motivos para tanto, costumam se insurgir quando leem neste espaço o que consideram impróprio para uma coluna esportiva, como se a política não permeasse todos os aspectos da vida.
Daí, agora, quase me limitar a enfatizar o quanto se perderá caso o Senado reafirme a primeira medida para a interrupção do mandato de Dilma Rousseff, sem entrar no mérito deste tapetão infame que, em vez de esperar a manifestação das urnas para eventualmente trocar o governo, indica um político sem votos, embora posto no cargo por mais um erro imperdoável do Partido dos Trabalhadores.
Não tenha dúvida de que, além de Cunha, deste inominável Michel Temer, Romero Jucá, Aécio Neves, Jovair Arantes e companhia bela, também festejarão os Teixeira, Marin, Del Nero e Carlos Nuzman, todos convidados para a mesma farra que há mais de 500 anos faz do Brasil o país da desigualdade social.
Os de boa-fé que comemoram hoje lamentarão em breve.
Que a reação não bote fogo no país.
Texto de Juca Kfouri, na Folha de São Paulo.
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