Era uma vez, em terras não tão distantes, um governo do faz de conta...
Ali, escolas eram fechadas para ajustar a situação fiscal. Quase cem escolas, gerando uma forte reação de estudantes, pais, educadores. Mas o governo dizia que não havia fechamento algum: as escolas estavam sendo "disponibilizadas" por motivos de readequação dos ciclos de ensino.
Ali, um pouco antes, professores cruzaram os braços e tomaram as ruas em manifestações. Foram 90 dias, mas o governo negava qualquer greve.
Ali também as torneiras andavam secas. Em algumas regiões por dias a fio, em outras por várias horas todos os dias. Mas o governo insistia em dizer que não faltava água nem faltaria.
Emissários enviados àquelas terras trouxeram a curiosa informação de que, apesar de tudo, por lá os jornais elogiam muito o governo do faz de conta e o têm em elevada estima.
Disseram ainda que o tal governo baixa decretos que tornam informações de interesse público secretas por até 25 anos. E que isso não costuma gerar grandes rebuliços por lá.
Acrescentaram inclusive que, não obstante as torneiras secas, o chefe do governo do faz de conta teria recebido um prêmio por "boa gestão hídrica", no que parece ser –por inverossímil– um exagero de nossos emissários.
Sorte nossa que trata-se de outras terras, já que por aqui os nativos da Pauliceia –pátria do trabalho e do civismo– não admitiriam ser ludibriados desta forma.
Ah, se tal despautério fosse aqui já teríamos lotado a avenida Paulista, na região central da cidade, no domingo e batido panelas em algum fim de tarde. É de se supor que essas terras fiquem em algum lugar do Nordeste. Ouvi dizer que lá o povo tem pouca cultura e é facilmente enganado por governantes.
Texto de Guilherme Boulos, na Folha de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário