quinta-feira, 5 de novembro de 2015

A crise tem causas econômicas ou políticas?

A grande batalha nos próximos anos e para ficar na história é até onde a crise que o país enfrenta é determinada por causas econômicas ou políticas, de quem é a culpa.
Não pode haver dúvida que ela tem causas econômicas, algumas de origem mercadológicas, outras orçamentárias, mas também pode se ter certeza que a maior parte tem causas eminentemente políticas.
A incompetência do governo Dilma ou sua irresponsabilidade, pode se contar entre as políticas. Ou a Presidente não soube dimensionar os problemas que se acumulavam e a necessidade de mudanças urgentes da política econômica, ou foi irresponsável, esperando para vencer as eleições e só então tomar providências. Não resolve dizer que Sarney e FHC também erraram (paridade do dólar, plano cruzado etc).
No entanto, a crise  vivida é muito mais grave que se poderia esperar de sua dimensão econômica. O componente político, a irresponsabilidade da oposição, da mídia e dos partidos fisiológicos, a tornaram muitíssimo mais grave e difícil de lidar. Há quem diga que pelo menos 70% da crise é devido a oposição.
De um lado temos uma Câmara de Deputados aprovando pautas bombas (o país já teria falido de vez se a presidente não houvesse vetado pelo menos meia dúzia de projetos de lei que explodiriam o ajuste fiscal, com repercussão nas próximas décadas), de outro a mídia fazendo verdadeira blitzkrieg contra Dilma, PT e Lula e tudo que ele representam, as quais se pode somar a participação de parte de membros do Judiciário, Procuradoria e da Polícia Federal, fazendo investigações e vazamentos dirigidos (ou alguém dirá que isso não acontece???), criam a tempestade perfeita.
O resultado disso só pode ser instabilidade e  agravamento da crise econômica, que para ser contida e debelada exige um mínimo de estabilidade política e segurança jurídica. A agência que rebaixou a nota do Brasil  colocou a crise política como motivo importante de sua decisão. Afinal, o chefe da atual oposição, Eduardo Cunha, liberou a possibilidade de pautas bombas ou impeachments (se tornaram quase semanais, já com base em pelo menos meia dúzia de motivos). Como confiar e investir em um país com essa liderança num dos principais cargos da Nação? Com parlamentares insaciáveis em termos de cargos e verbas?
De fato, a situação se apresenta como um terceiro turno interminável, um vale tudo congressual e midiático. Nos governos Lula e no primeiro governo Dilma foi possível lidar com a oposição midiática e  fazer-se respeitar por opositores em instituições do Judiciário e até da polícia (e mais um comichão em alguns militares, que não conseguem apenas assistir a tanta celeuma), graças a maioria obtida em eleições e a maioria parlamentar. Mas no momento nada disso existe. A Presidente tem sido humilhada por Cunha (quem não lembra o episódio da entrega da cabeça do Ministro Cid Gomes, em uma bandeja) , massacrada pela mídia, é até admirável que tenha resistido tanto tempo e que, ao que tudo indica, vencerá tantas forças conjugadas.
Em episódios muito semelhantes, como o da saída de Getúlio Vargas pelo suicídio e a deposição de Jango,  a história apontou os culpados com muita clareza. Acontece que não podemos viver apenas com a história apontando o que é certo.

Comentário de Percival Maricato, no Jornal GGN

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