quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Os Porões da Contravenção: um livro essencial

A história do Brasil é feita de episódios oficiais e de uma infinidade de eventos subterrâneos que raramente são acessados por repórteres investigativos.
São esses repórteres que levantaram os problemas das privatizações, as aventuras do esquema José Serra e de seu parente Preciado – que acaba de aparecer também na Lava Jato – e outros episódios que, sendo do reino da contravenção, impactam a política formal dos salões.
O livro “Os Porões da Contravenção”, de Aloy Jupiara e Chico Otávio, é um desses livros fundamentais.
Chico Otávio é jornalista respeitado. Participou de uma brilhante geração de repórteres de O Globo, nos tempos em que a reportagem de fôlego ainda não tinha sido abolida das páginas dos jornais.
Coube a ele coordenar a série de reportagens no caso HSBC, depois que o jornalista Fernando Rodrigues amarelou.
Assim como muitos de seus colegas, Chico Otávio migrou suas grandes reportagens para o livro e, junto com Aloy, montou um vasto perfil da contravenção do jogo de bicho, a partir das ligações do crime com a linha torturadora da repressão.
Mostra o relacionamento íntimo do SNI (Serviço Nacional de Investigações) e dos militares que comandaram os atentados do Riocentro com o bicho.
Esse período termina com a sentença história da juíza Denise Frossard, mandando prender os chefões, graças a um trabalho do Ministério Público. Pena que não sejam mencionados os procuradores que participaram dessa operação histórica, para que possam ser colhidos seus depoimentos.
Depois disso, o jogo se espraiou por inúmeras atividades, entrou em outras áreas da corrupção pública, mas encerrou o ciclo da grande organização criminosa que juntava todos os mafiosos em torno de um cappo e mandava liquidar os adversários.
O livro termina com um final digno de filme de suspense: informa que o celebérrimo Capitão Guimarães é um dos correntistas do HSBC.
Fica aí a dica para uma continuação: a nova forma de atuar do jogo, agora no formato eletrônico em parceria com máfias italiana, espanhola e de Las Vegas. Foi essa abertura que permitiu o empreendedorismo de Carlinhos Cachoeira, aliando-se à revista Veja para tentar expandir seus domínios para além de Goiás.
Essa segunda fase do jogo é responsável pelas maiores crises políticas contemporâneas.
É importante que o Ministro Aloizio Mercadante tenha isso em mente, antes de se propor a patrocinar qualquer forma de legalização do jogo.

Reprodução do Blog do Luís Nassif

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