SE VOCÊ, rara leitora e raro leitor, não é uma pessoa envenenada pela intolerância que divide o mundo entre petistas e coxinhas, lembrará que leu aqui não poucas críticas a todos os ministros do Esporte dos governos Lula e Dilma (o que valeu impropérios dos petistas) além de muitos elogios aos avanços na legislação esportiva (o que resultou em xingamentos dos coxinhas).
A razão sempre foi a mesma: nenhum dos tais ministros era do esporte ou tinha uma vaga ideia do que fazer.
Agnelo Queiroz, Orlando Silva e Aldo Rebelo, todos do PCdoB, apenas aparelharam o ministério e decepcionaram.
O primeiro tem tudo para ser preso, o segundo complicou-se até com a pamonha e o terceiro desmoralizou a honestidade.
Depois dos ateus do PCdoB (embora um deles ao menos a coluna tenha visto comungar), veio a Igreja Universal do Reino de Deus do pastor George Hiltonque, diga-se, mal não fez, ao contrário, ajudou a aprovar o Profut, passo adiante nas leis do futebol, grande gol, embora ainda insuficiente, da presidenta (presidenta?! Pega, pega, é coisa de petista!) afastada.
Eis que agora temos —sabe-se lá por quanto tempo, tantas já são as trapalhadas de um interino que acha estar falando com o presidente da Argentina, nomeia um ministro da Justiça de botinas para logo desmenti-lo e escolhe a marca para sua gestão com a bandeira dos tempos da ditadura—mais um ministro do Esporte, este vindo do PMDB.
Por mais que desminta, sua primeira medida foi desmontar a Autoridade Pública do Futebol, a APFut, ao anular as nomeações já feitas e entregar as novas ao notório deputado federal Jovair Arantes (PTB-GO), da bancada da bola e parceiro de Carlinhos Cachoeira. Não por acaso, fala-se em legalizar os jogos de azar no país, para alegria do velho bicheiro paulista Ivo Noal, cuja ascensão se deu exatamente no período em que era secretário da Segurança de São Paulo o presidente em exercício.
E ninguém bate nas panelas por isso!
O novo ministro, deputado federal Leonardo Picciani (PMDB-RJ), tem como maior obra em sua vida de empresário ter participado, como sócio de uma mineradora, da compra de ações de alguém que havia morrido 17 meses antes de "assinar" a venda. A tal mineradora, Tamoio, vende brita para obras públicas.
O vendedor defunto acabou atribuído a um equívoco do contador. Como o sumiço, entre outras, da estrela, que representa, no logotipo temerário, o Estado do Roraima do ministro Romero Jucá, encalacrado até o pescoço na Lava Jato e autor do precoce relatório da CPI do Futebol antes que esta terminasse, é de responsabilidade de uma criança de 7 anos.
Mas as panelas seguem mudas.
Imagine na Olimpíada.
Uma festa seguramente linda na abertura para nos fazer chorar de emoção e esquecer que recebemos a Olimpíada sem ter nem sequer Política Esportiva.
Não temos e não teremos enquanto o ministério for objeto de barganha política. Do jeito que está, este sim pode acabar, sem prejuízo, ao contrário do da Cultura.
Pensar que o do Esporte deveria estar nas mãos de uma Ana Moser, da Atletas pelo Brasil.
Mas como, se nem Autoridade Pública Olímpica a deixaram ser?
Texto de Juca Kfouri, na Folha de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário