sexta-feira, 20 de março de 2015

EUA vão continuar espionando Brasil

Os Estados Unidos dificilmente vão parar de espionar o Brasil. Um pronunciamento do ex-diretor da NSA, a agência de espionagem dos Estados Unidos, é uma boa amostra.
Em evento na semana passada no think tank New America Fondation, Michael Hayden, que também foi diretor da CIA, afirmou que "nunca será fechado um acordo de não espionagem com a Alemanha".
A chanceler Angela Merkel, assim como a presidente Dilma Rousseff, foi espionada pela inteligência americana e teve seu celular grampeado.
Merkel esteve em Washington em fevereiro.
"Cinco significa cinco...é um arranjo entre cinco nações para criar um grau maior de confiança e transparência". Ele se referia ao acordo conhecido como Five Eyes (cinco olhos), entre EUA, Reino Unido, Austrália, Canadá e Nova Zelândia.
Pelo acordo, essas nações compartilham informações que recolhem entre si e de terceiros países. E a Alemanha continuará fora desse círculo, disse Hayden.
"Vocês podem fazer mil viagens a Washington, mas não nós temos a chave para transformar cinco em seis", disse.
Ele admitiu que os vazamentos de Edward Snowden em 2013 sobre a espionagem da NSA prejudicaram o relacionamento entre EUA e Alemanha, mas o problema não foi espionar.
"Precisamos nos envergonhar não pelo que fizemos, mas por nossa incapacidade de manter secreto o que fizemos." À frente da NSA, ele se reservou o direito de "os EUA conduzirem espionagem para preservar a segurança dos EUA, quando os EUA achassem necessário."
Hayden não está mais à frente da NSA, mas ajudou a desenhar todo o arcabouço da agência. E Obama, apesar de ter anunciado várias reformas no sistema de espionagem, passou longe de garantir que seus aliados não mais serão vítimas de vigilância.
Se isso aconteceu com a Alemanha, por que o Brasil estaria a salvo?
Desde que vieram à tona revelações de que a NSA grampeava até o celular de Dilma, o relacionamento entre EUA e Brasil azedou.
A visita de Estado que Dilma faria em outubro de 2013 foi "adiada" indefinidamente, e há uma tênue esperança de que seja reagendada neste ano (desde que Dilma tenha uma situação minimamente estável aqui no Brasil, o que está longe de estar garantido).
A coisa vem melhorando nos últimos tempos, em grande parte por causa dos esforços continuados do vice-presidente Joe Biden para quebrar o gelo. Mas o fato é que, sem um conjunto razoável de "deliverables" para anunciar, a visita não sai do papel.
O chanceler Mauro Vieira esteve com Susan Rice esta semana e discutiu uma possível agenda para a visita —sem , no entanto, referir-se a datas.
Existe uma percepção do lado brasileiro de que os EUA deveriam fazer algum gesto para mostrar contrição em relação aos atos da NSA, ainda que não seja um pedido de desculpas com todas as letras. A fala de Hayden mostra que isso dificilmente vai ocorrer.


Reprodução de texto de Patrícia Campos Mello, na Folha de São Paulo.

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