quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A primeira resposta



Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, se convenceu de que os Estados Unidos não são mediadores, mas parte do conflito Israel-Palestina. A frase, do colunista do jornal espanhol El País M. Á. Bastenier, ilustra bem os motivos que levaram Abbas a propor unilateralmente o reconhecimento do Estado Palestino diante da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (Onu). Quando foi eleito presidente, Barack Obama, então dono de um discurso a prometer aproximação e diálogo com os povos do Oriente Médio, era visto por Abbas e pelos palestinos como a esperança por novas abordagens nas negociações de paz. Por fim um governante norte-americano estaria disposto a pressionar Jerusalém pelo fim das construções de assentamentos judeus em território ocupado, pré-condição palestina para a retomada do diálogo. Não foi o que aconteceu. Como seus antecessores, Obama percebeu que é preciso mais do que palavras de boa vontade para avançar em qualquer resolução da disputa e que, diante da proximidade de sua tentativa de reeleição em 2012, seria demasiadamente imprudente descontentar os interesses do lobby pró-Israel em seu país. 
Caso venha a se sentar à mesma mesa do premiê Benjamin Netanyahu e dialogar sem pré-condições, como defendeu cinicamente o líder israelense em Nova York, Abbas será conivente com as constantes agressões israelenses no território ocupado, isto é, para além da linha verde, demarcação territorial das fronteiras anteriores à guerra de 1967. Agressões que, mal o documento pelo reconhecimento palestino foi apresentado à Onu, na sexta-feira 23, ganharam um novo capítulo.
O comitê regional de habitação de Jerusalém aprovou, nesta terça-feira 27, a construção de 1,1 mil novas residências para colonos judeus em Gilo, bairro na zona oriental da capital e em território que pertenceria ao futuro Estado Palestino. Um porta-voz do Ministério do Interior israelense argumentou que o plano de expansão estava há 60 dias em estágio de consulta pública e que seu anúncio se deve ao cronograma do projeto, não a pressões políticas. Entretanto, não faltaram vozes a acusar a medida como a primeira retaliação israelense contra a jogada dos palestinos na Onu, um sinal de que algo profetizado pelo próprio Abbas pode vir a acontecer. Como um Davi que desafia um Golias, tempos difíceis esperam a população palestina da Cisjordânia. A construção dos novos assentamentos deve ocorrer a partir de 2013.
O anúncio da ampliação dos assentamentos ocorre um dia depois de o Conselho de Segurança da Onu concordar em designar uma comissão para estudar o pleito pelo reconhecimento de um estado da Palestina. Normalmente, o processo levado a cabo pela comissão integrada por todos os 15 países membros do Conselho dura ao redor de 35 dias, mas diplomatas ocidentais já admitiram que o prazo pode ser bastante ampliado para o atual caso.
Principal aliado de Israel, os Estados Unidos se limitaram a protestar e classificar os novos assentamentos de “contraproducentes para o reinício de negociações diretas”. O Departamento de Estado defendeu que a expansão das construções em solo ocupado é corrosiva para o próprio Estado israelense.
A retórica norte-americana parece cada vez mais frágil. Na Assembleia Geral da Onu, Obama repetiu mais uma vez o mantra de que a paz não virá de nenhuma ação unilateral por parte dos palestinos. Acontece que a Palestina convive diariamente com ações unilaterais do outro lado, como mostra a expansão dos assentamentos e o constante relato de ataques por partes de colonos a mesquitas na Cisjordânia. Obama afirmou neste ano que acreditava num acordo de paz baseado nas fronteiras anteriores a 1967, simbolicamente um dos maiores avanços já dado por um líder norte-americano. Mas seu discurso perde credibilidade na medida em que praticamente nenhum avanço é alcançado na contenção dos assentamentos judeus na Cisjordânia, o principal pleito palestino para reiniciar as conversações.
Apesar do discurso de Benjamin Netanyahu ter sido uma tentativa bastante evidente de vitimar-se perante a comunidade internacional, alegando que seu governo sempre esteve disposto a estender a mão aos palestinos, Ramallah também tem pontos frágeis a serem resolvidos que, de certa forma, dão combustível à intransigência israelense. À sombra da aliança política que permitiu a reconciliação entre Hamas e Fatah, a insistência do grupo que governa a Faixa de Gaza em não reconhecer a existência do Estado judeu serve de justificativa para Jerusalém alegar que o retorno às fronteiras de 1967 trariam insegurança a Israel.
Após uma moratória de dez meses, o governo israelense retomou a construção de assentamentos judeus na Cisjordânia há um ano. O reinicio do avanços dos assentamentos foi a justificativa da Autoridade Palestina para abandonar a negociações pela paz.

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