quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Muito além de dois dias

Muito além de dois dias


DATA MAIS celebrada pelas Forças Armadas, o 7 de Setembro de ontem marcou um cinquentenário ferino para a memória militar, apesar das cautelas para não o lembrar por este aniversário histórico.
Oito anos depois do 7 de Setembro de 1961, a data reverenciada deixaria outra cicatriz indelével na memória militar. Ambas com consequências brutais sobre a vida civil brasileira e a história do seu perturbado percurso político.
Os acontecimentos seguintes à renúncia de Jânio Quadros, em 61, encontraram um arremedo de solução com o parlamentarismo. Os ministros e comandantes militares, que de início recusaram a fórmula parlamentarista, terminaram por aceitá-la quando convencidos da impossibilidade de impor-se à resistência levantada no Sul por Leonel Brizola, com a adesão de grande parte dos contingentes do Exército e da Aeronáutica na região, em defesa da posse do vice. A ser mantida a recusa militar ao parlamentarismo, por implicar a presença de Jango Goulart na Presidência, seria a guerra civil. Com imediatas sublevações em vários Estados, na defesa do determinado pela Constituição.
A última alternativa cogitada pelos militares contrários à posse fracassou também. Aprovada pelo Congresso a substituição do presidencialismo, Jango viajaria de Porto Alegre (na lenta volta da China, entrara pelo Sul) para Brasília, empossando-se em seguida. A alternativa planejada o impediria de ir até a capital.
A viagem, porém, foi adiada: chegara o aviso de um complô para derrubar o avião da Varig em que Jango e muitos outros passageiros estariam (há dias citei avião da Panair, que, de fato, foi o da viagem do exterior para o Sul). Pilotos de caça e sargentos recusaram-se a executar o plano de abate e dele informaram militares da resistência no Rio Grande do Sul. Invalidado o complô, Jango por fim viajou, com a companhia de numerosos deputados que foram ao seu encontro, a título de garantia institucional.
As primeiras 24 horas vividas integralmente por Jango, na condição de presidente, passaram-se no 7 de Setembro.
No 7 de Setembro de 1969, o poder estava outra vez nas mãos dos três militares em situação dramática. Expunham-se e à sua ditadura em um vexame internacional sem precedentes, com o primeiro desaparecimento de um embaixador dos Estados Unidos colhido por guerrilha urbana. Algumas imprevidências dos adversários e uma sucessão de acasos produzidos pela sorte permitiram-lhes saber, em poucos dias, da volta de Charles Elbrick para casa. Mas não a tempo de evitar um 7 de Setembro amargo e penoso, cheio de derrota e rancor.
Dias da Pátria.


Coluna de Jânio de Freitas, na Folha de São Paulo, de 8 de setembro de 2011.

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