terça-feira, 13 de setembro de 2011

Paquistão silencia separatistas balúchis

Paquistão silencia separatistas balúchis

Por CARLOTTA GALL

GENEBRA - Com seu físico esguio metido num terno escuro, Brahumdagh Bugti, 30, poderia passar por um executivo de banco nas ruas desta cidade suíça. Mas na verdade ele é um líder exilado da resistência, envolvido num conflito separatista cada vez mais violento dentro do Paquistão.
Bugti está foragido desde 2006, quando escapou de uma operação militar que matou seu avô e dezenas de membros da sua tribo na província do Baluchistão, no sudoeste paquistanês.
Desde então, os esforços do governo para sufocar a rebelião da minoria étnica balúchi se intensificaram, segundo organizações de direitos humanos e políticos paquistaneses.
A insurgência balúchi, que ocorre de forma intermitente há décadas, é frequentemente chamada de "Guerra Suja do Paquistão", por causa do crescente número de pessoas mortas ou desaparecidas em ambos os lados. Mas o conflito recebe pouca atenção internacional, em parte porque a maioria dos olhos se volta para a luta contra o Taleban e a Al Qaeda nas áreas tribais do noroeste paquistanês.
Os nacionalistas balúchis nunca aceitaram fazer parte do Paquistão, e já se rebelaram cinco vezes desde a formação do país. Suas exigências variam de maior controle sobre o gás e os recursos naturais até a independência total.
Quando o Exército bombardeou a casa da sua família em Dera Bugti, em dezembro de 2005, Bugti se refugiou nas montanhas com seu avô, Nawab Akbar Khan Bugti, ex-líder da tribo Bugti. Em agosto de 2006, os militares os apanharam. "Eu escapei, mas ele não conseguiu", disse Bugti.
O único lugar para ir era o Afeganistão, que, no entanto, não era um porto seguro. Bugti relatou que ele e sua família se tornaram alvos de repetidos ataques cometidos pelo Taleban e a Al Qaeda, mas que acreditam ter sido ordenados por militares paquistaneses.
O governo do Paquistão não faz segredo sobre sua intenção de matar ou capturar Bugti. Membros da Otan pediram ao Afeganistão que transferisse Bugti para outro lugar, segundo diplomatas ocidentais e funcionários afegãos. Então, em outubro de 2010, ele e sua família mudaram-se para a Suíça.
Embora Bugti diga apoiar apenas o ativismo político pacifico, ele é partidário do separatismo balúchi. Logo depois da morte do avô, o rapaz fundou um partido que recebeu amplo apoio da classe média e dos movimentos estudantis balúchis. A reação do governo não demorou. Oito membros de seu partido no Baluchistão foram mortos, cinco integrantes do comitê central estão desaparecidos, e os principais líderes tiveram de se exilar.
Isso é parte da repressão governamental contra líderes estudantis e políticos nacionalistas na província, que vem se tornando cada vez mais letal nos últimos 18 meses, segundo políticos e entidades de direitos humanos. A Anistia Internacional descreve uma tática de "assassinar e desovar", pela qual a cada mês cerca de 20 ativistas, professores, jornalistas, advogados e até mesmo adolescentes vêm sendo detidos e têm seus corpos, crivados de balas, abandonados em estradas.
A ONG Human Rights Watch diz que centenas de pessoas desapareceram desde 2005 no Baluchistão, e que foram documentados 45 casos de torturas e desaparecimentos na província em 2009 e 2010, tendo as forças de segurança como responsáveis.
Bugti já pediu aos EUA que suspendam sua ajuda ao Exército paquistanês, que, segundo ele, estaria desviando para a repressão aos balúchis recursos que deveriam ser usados no combate ao terrorismo. "Se os EUA interrompessem a assistência militar e financeira, [os militares] não poderiam manter suas operações por muito tempo", afirmou.
O aumento da violência levou os balúchis a irem além das suas reivindicações originais por maior autonomia, desencadeando um movimento separatista armado.
"As pessoas estão indignadas e irão para o lado daqueles que usam a violência", disse Bugti.
"Se você acaba com todas as formas pacíficas de debate e sequestra ativistas políticos, e os tortura até a morte e atira seus corpos na beira das estradas, então definitivamente eles irão se juntar aos grupos de resistência armada."


Notícia do The New York Times, reproduzida na Folha de São Paulo, de 5 de setembro de 2011.

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