sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Em meio à riqueza, uma mão-de-obra esquecida (na Alemanha)

Em meio à riqueza, uma mão-de-obra esquecida

Por JUDY DEMPSEY

BERLIM - O baixo índice de desemprego e o crescimento constante, apesar da recessão global, fizeram da Alemanha motivo de inveja entre seus parceiros europeus menos robustos.
Mas, escondida atrás do chamado milagre econômico alemão, existe uma subclasse de empregados mal remunerados cuja renda pouco se beneficiou da estabilidade do país e até encolheu em termos reais na última década.
E, por causa das políticas do governo destinadas a manter os salários baixos para desencorajar a terceirização e incentivar o aprendizado técnico, a renda desses trabalhadores provavelmente não vai aumentar tão cedo.
Isso, por sua vez, significa que eles provavelmente continuarão dependendo dos programas de ajuda do governo para pagar suas contas, o que custa aos contribuintes 11 bilhões de euros por ano.
Essa situação ocorre porque a Alemanha não tem um salário mínimo federal. Mas também tem origens na política recente do país, que favoreceu medidas para conter o desemprego e conquistar apoio dos empregadores.
Enquanto o rendimento líquido máximo dos alemães de renda média-alta, geralmente definidos como os que ganham 3.400 euros por mês (R$ 7.820), aumentou ligeiramente em termos reais de 2001 a 2010, a renda líquida da população de baixa renda, os que ganham 960 euros por mês (R$ 2.208) ou menos, caiu 10%, segundo estudo de Markus Grabka, do Instituto de Pesquisas Econômicas da Alemanha (DIW).
E apesar dos esforços de combate à inflação da Alemanha, que mantiveram a taxa em 1,7% ao ano em média entre 2000 e 2010, mais alemães de baixa renda precisam contar com a ajuda do Estado para pagar as contas.
Em nenhum lugar esse abismo crescente é mais visível que em Berlim-Mitte, o próspero centro da capital, onde centenas de homens e mulheres faziam fila recentemente no departamento de empregos do distrito.
Maria Müller, 63, trabalha em uma clínica em Berlim que cuida de idosos deficientes. "Eu ganho 900 euros brutos por mês", ela disse. "Não tive um aumento de salário desde 2002. Mal consigo sobreviver, apesar de o governo dizer que a economia vai bem."
Segundo o Instituto de Pesquisas do Emprego, 1,37 milhão de pessoas que trabalham em tempo integral, parcial ou são autônomos dependem do Estado para complementar sua renda.
A história de sindicatos fortes na Alemanha permitiu que o Estado se mantivesse fora das negociações salariais. O sistema ainda funciona para setores como a construção, onde um trabalhador não qualificado ganha 11 euros por hora. Mas no setor de serviços alguns ganham apenas 640 euros por mês. O salário mensal médio na Alemanha foi de 2.366 euros (R$ 5.441) em 2010.
A Confederação de Associações de Empregadores da Alemanha diz que a adoção de um salário mínimo aumentaria os custos trabalhistas e o desemprego. Mas economistas dizem que se os salários continuarem baixos o Estado terá de subsidiar esses trabalhadores não qualificados.
"Eu adoraria a ideia de um salário mínimo", disse Thorsten Schulz, um mecânico de 60 anos, enquanto estacionava sua bicicleta.Ele ganha 7 euros por hora, em um trabalho temporário. "Se eu tivesse um emprego com um salário decente, poderia até pegar o ônibus", ele disse.


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