Impostos angolanos, serviços públicos suecos
A carga tributária no Brasil é de 34,4%. O que isso quer dizer? Nada. O problema tem muito mais a ver com a forma com que a cobrança é feita
A carga tributária do Brasil é de 34,4%. O que isso quer dizer? Nada. A do Chade é 4,2%, de Angola 5,7% e Bangladesh 8,5%. A do Reino Unido é 39%, da Áustria 43,4% e da Suécia 47,9%.
Alguém pode vir com alguns poucos exemplos de países que pagam menos do que nós e estão melhor, mas isso também não quer dizer nada.
O problema real tem muito mais a ver com a forma como é cobrado. Como já escrevi em vários textos, o Brasil cobra muito no consumoe pouco na renda.
Isso na média. Porque mesmo na renda se cobra pouco de quem está em cima e muito de quem está embaixo.
O resultado: A galera de baixo é a que mais sente; A galera do meio é a que mais paga, A galera de cima não sente e (quase) não paga.
Como assim?
Se você ganha até 1.900 reais, como 66% dos brasileiros, não paga imposto de renda. Mas todo o seu dinheiro vai para a subsistência, que é taxada. Absurdamente taxada. E ainda usa um serviço público ruim.
Se você ganha entre 2.000 reais e 6.800 reais, como 25% dos brasileiros, pode pagar até 27,5%. E também gasta muito para sobreviver, então paga alto. Sobra pouco. E não quer usar o serviço público ruim, então sobra menos ainda.
Bom mesmo é quem ganha muito. Mas muito, aquele 1% de cima, sabe? Esse reclama porque a empresa dele é taxada, mas embute isso no preço dos produtos – aquele imposto que mata o resto dos brasileiros – enquanto tem sua renda isenta. Chamam de lucros e dividendos.
Sabe quantos países isentam lucros e dividendos? Dois. Brasil e Estônia.
Quando muito, essa galera de cima paga aquela média de 3% sobre o patrimônio, enquanto a média mundial está entre 8% e 12%.
E aí ficamos discutindo se a CPMF é boa ou ruim. E por quê? Porque a galera do meio compra facinho o discurso de que a carga tributária é alta.
Só que a Suécia tem sete vezes mais dinheiro por habitante para gastar no serviço público. Mas a galera de cima não usa serviço público. Ela quer mesmo é pagar ainda menos imposto.
Então, vende esse discurso para a galera do meio, que passa a querer imposto baixo angolano e serviço público sueco.
É isso. Reflita.
Texto de Rogério Godinho, na CartaCapital.
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