sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

D’Alessandro, o último camisa 10?

Partiu d’Alessandro.
Deixará saudades.
Mesmo como ex-colorado, serei viúva dele como sou de Nilmar.
Nilmar até quando errava era bonito.
D’Alessandro tinha, mais do que tudo, técnica.
A sua arte era o essencial do futebol, o drible.
Jogava, apitava, comentava e orientava o time em campo.
Jogador completo.
O futebol está mudando. Há quem acredite que agora o esquema é que ganha jogo.
Esquema privilegia o treinador.
O Grêmio não seria o talento de Luan, mas a estratégia de Roger.
Eu sou cada vez mais antigo. Para mim, futebol é o coletivo transfigurado pelo talento individual.
Foi o que aprendi numa longa entrevista com Michel Platini, em 1994, em Paris.
Estou há 30 anos de algum modo no jornalismo esportivo. Fui repórter da Zero Hora cobrindo Grêmio e até Seleção Brasileira. Como correspondente internacional, cobri muito esporte. Há anos, sou debatedor em programas esportivos da Rádio Guaíba. Tive participações longevas na televisão. Em todo esse tempo, vi poucos jogadores como D’Alessandro. Na infância, vi o Inter de 1976 e 1976.
D’Alessandro faz parte da história dos jogadores mais talentosos da história colorada.
Tecnicamente sempre jogou mais do que Fernandão, embora não tenha sido campeão mundial.
Só Falcão e Carpeggiani jogaram, do ponto de vista técnico, mais do que ele.
Ruben Paz foi um pouco abaixo.
Há quem considere D’Alessandro um jogador superado, lento, que cadencia o jogo, segura a bola, etc.
Talvez D’Alessandro seja o último camisa 10 à moda antiga, esse pássaro em extinção no tempo do tique-taque e da velocidade transformada em correria desenfreada, frenética e muscular.
Foi-se D’Alessandro e com um ele tempo romântico fora de época, do engajamento na era da mercadoria total, de permanência no tempo da volatilidade, de paixão no etapa do cálculo total, o homem cerebral e passional que controlava o jogo, levantava a cabeça, parava, pensava, distribuía e criava.
D’Alessandro tinha de partir no carnaval, pois ele lembra velhos carnavais de salão, de rua, de guerras de bisnagas, de coloridos que se esmaeceram, de dribles batizados e de paixões eternas de quatro noites.
Entendo D’Alessandro: voltou por paixão. É seu último ano para jogar uma Libertadores pelo River.
Valeu, D’Ale.
Tu foste 10!


Reprodução do Blog do Juremir Machado da Silva, no Correio do Povo

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