sábado, 25 de maio de 2013

Novos terroristas não são assim tão novos nem são terroristas


Os recentes atos de violência em Boston e Londres ajudam a popularizar o termo "novos terroristas" para tipificar uma tendência de atentados praticados por militantes islâmicos contra potências ocidentais no seu próprio território.
Algumas características dessa tendência, além da motivação do ressentimento religioso, são: a organização individual, a escala artesanal das ações, a conexão virtual com redes terroristas internacionais, a residência local dos militantes etc.
Uma análise detalhada pode sugerir dúvidas sobre a validade dessa caracterização, permitindo o questionamento da novidade e da dimensão terrorista.
Londres é um exemplo: por mais desumana e trágica, e mesmo que com uma motivação política e religiosa, a morte do militar britânico dificilmente seria classificada como terrorismo, ao não envolver a população civil de forma indiscriminada.
No atentado com "panela-bomba" em Boston, ainda parecem incertas as ligações com redes internacionais como Al-Qaeda ou grupos militantes do Daguestão e da Tchetchênia. Ou seja, atos praticados por cidadãos muçulmanos que podem não ser terroristas ou não ter motivação islâmica.
Tudo isso poderia ser contextualizado nas tendências contemporâneas de fragmentação das militâncias, expressas por redes virtuais e institucionais que aproximam os envolvidos.
Uma militância fragmentada pode se desesperar quando motivada pelo sentimento de impotência, diante da diminuição das liberdades civis e do controle policialesco no plano doméstico, aliado a situações de grande poderio militar e de tentativas de derrubada de governos locais verificadas na bacia do Mediterrâneo.
São atos que poderiam ser entendidos também em outros contextos, como em um recorte menor dentro da onda generalizada de descontentamento e desesperança vistos nos EUA e na Europa, motivados pela recessão, inspirando contestação, com ou sem ideologias, como os saques em cidades europeias e o "Occupy Wall Street".
A tentativa de releitura desses atos, no sentido de caracterizá-los como uma nova estratégia terrorista articulada, sempre conectada a uma rede internacional abstrata (que ocupa o espaço deixado pelo inesperado desaparecimento da ameaça da Guerra Fria), contribuiria para a restituição de inimigos externos visíveis e úteis para a coesão interna em tempos difíceis.


Texto de Fernando Padovani, para a Folha de São Paulo. Destaques do blogueiro.

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