sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Roubo de diamantes na Bélgica deixa em alerta indústria de pedras preciosas do país


A venda de diamantes depende tanto da qualidade das gemas quanto da segurança que garante as transações. A brecha aberta pelo roubo sob metralhadoras de uma carga avaliada em 37 milhões de euros em plena pista de decolagem do aeroporto de Bruxelas desnorteou o setor. A poderosa indústria do diamante de Antuérpia, a maior do mundo, quer um reforço nas medidas de segurança para evitar episódios como o de segunda-feira passada. "Depois de um roubo similar ocorrido em 2005, conseguimos com que a polícia escoltasse as remessas até o avião. Logo acabaram com essa medida, mas esse será um dos pontos-chave das discussões depois do roubo do Zaventem", garante Karen Rentmeesters, da organização Antwerp World Diamond Centre, que reúne os interesses do setor na Bélgica. Cerca de 80% das pedras em estado bruto e metade das lapidadas passam pela Antuérpia, que acumula uma tradição de cinco séculos no design e na venda de diamantes.
Embora a frustração pelo ocorrido leve a pedir por mais segurança, a verdade é que o mundo dos diamantes já goza de uma proteção privilegiada. A polícia, custeada por verba pública, escolta os furgões que transportam carregamentos de diamantes desde o coração da indústria – a chamada milha quadrada de Antuérpia – até o aeroporto de Bruxelas. Em geral, dois carros de polícia com agentes armados protegem cada trajeto "sem exceção", ressalta Rentmeesters. As forças de segurança até dispõem de um telefone especial para atender ocorrências relacionadas com essa próspera indústria
Na milha quadrada, um espaço reduzido que concentra quase 2 mil empresas do setor, quatro mercados de diamante e cinco bancos especializados, a vigilância é ainda maior. Cerca de 2 mil câmeras de segurança examinam cada canto para blindar os negócios. E a zona fica fechada para o trânsito de carros; não há estacionamentos e as únicas exceções à norma requerem uma permissão especial solicitada com duas semanas de antecedência. O proprietário do veículo deve entregar todo tipo de documentos e se submeter a uma investigação antes de receber a autorização. Esses métodos quase doentios garantem com que cada dia circulem US$ 200 milhões, por essas duas ou três ruas de Antuérpia. Segundo as cifras do setor, o diamante rende a cada ano mais de 42 bilhões de euros, aproximadamente 10% do PIB belga, e gera 34 mil empregos diretos e indiretos somente na província de Antuérpia.
Qualquer coisa que possa colocar em risco esse império, praticamente imune à crise – ainda que ele tema a concorrência da Índia, com preços muito mais baixos - , preocupa os comerciantes e as empresas de segurança que os protegem. As firmas contatadas por este jornal se recusaram a fazer comentários e a Brink’s, transportadora que foi alvo do roubo enquanto carregava a mercadoria no aeroporto de Zaventem, se remete a um comunicado que garante que todas as perdas de seus clientes serão reembolsadas. A companhia admite que o episódio terá "um impacto significativo" em seu lucro trimestral.
A segurança associada ao diamante se divide entre pouquíssimas mãos. Além da Brink’s, a Malca-Amit e a Ferrari Express aglutinam o grosso dos contratos de segurança, altamente especializados em envios de alto risco e controlados pelos comerciantes. Algo similar acontece com os bancos. Os vendedores de diamantes não recorrem a firmas convencionais, mas sim àquelas que oferecem um serviço específico. A maior oferta mundial vem de bancos indianos – a Índia foi onde se originou o comércio de pérolas, há mais de mil anos - , ainda que o mercado na Antuérpia seja liderado pelo holandês ABN Amro, seguido do belga ADB. Os bancos israelenses também ficaram com parte do bolo.
Essa diversidade de origens é um dos elementos que os representantes do Antwerp World Diamond Centre exibem como vantagem: um ambiente multicultural onde comercializam juntos judeus (muito presentes nesse setor), católicos e muçulmanos de diferentes países.
Embora oficialmente todos estejam aguardando o resultado da investigação, o setor questiona como dois carros carregados de homens armados conseguiram invadir a zona de decolagem do aeroporto, paradigma da segurança mundial que incentiva as empresas a optarem pela via aérea para seus envios. As fontes oficiais estão longe de oferecer essa resposta.
Reportagem de Laura Abellán, para o El País, reproduzida no UOL. Tradutor: Lana Lim

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