segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A luta contra a depressão grega


A luta contra a depressão grega
KOSTAS TSAPOGAS

Atenas - Eu e minha mulher fazemos parte dos muitos gregos apanhados pelo turbilhão da crise econômica. Desde que o jornal onde eu trabalhei durante 23 anos (e minha mulher por 17) encerrou suas publicações, em dezembro de 2011, ambos ficamos desempregados. Nenhum de nós recebe salário há 18 meses, pois o jornal deixou de nos pagar cinco meses antes de fechar. Com o desemprego entre jornalistas acima de 30% e o índice de desemprego oficial em 26%, nossas perspectivas para este ano não são extremamente favoráveis, digamos.
Nossa história é típica de muitos gregos, embora alguns estejam muito pior e outros melhor. Mas como muitos gregos que lutam apenas para conseguir alimento suficiente, manter suas casas aquecidas e uma aparência de normalidade, nós lutamos para manter nossa dignidade intacta e evitar a depressão que envolve nosso país.
De certa forma, tivemos sorte. Nosso filho, como muitos jovens, deixou a Grécia e encontrou trabalho como engenheiro de software na Escócia. Nós observamos o país perder uma geração capacitada, de nível superior. Nossos pais, embora idosos, são saudáveis e conseguem sobreviver com sua aposentadoria, que foi cortada em quase 50% nos últimos dois anos. Eles se ofereceram para compartilhar o pouco que têm conosco, coisa comum na Grécia onde os laços familiares tradicionais substituem os programas sociais ineficazes.
Nos últimos 18 meses, tentamos encontrar trabalho no jornalismo. Com um grupo de ex-colegas, tentamos criar um jornal digital. Depois de meses de trabalho duro -sem pagamento-, nosso principal investidor desistiu de nos financiar alguns dias antes de nossa entrada on-line. Ele não quis assumir o risco em uma economia frágil.
Nós constantemente exploramos outras vias de trabalho.
Minha mulher começou a fazer pães para ajudar a nos manter à tona. Examinamos a possibilidade de exportar produtos agrícolas gregos.
Em uma economia onde as vendas de casas quase não existem, conseguimos vender nossa pequena casa de campo. Apesar de termos recebido menos de 20% de seu valor anterior, ficamos felizes porque isso permitiu nossa sobrevivência por mais alguns meses.
Conseguimos uma ordem do tribunal que impede os bancos de executarem nossa hipoteca, por isso nossa casa em Atenas está salva até 2015. Tivemos mais sorte do que as pessoas que são obrigadas a viver em seus carros, a única propriedade que lhes resta depois que perderam seus empregos e os bancos tomaram suas casas. Elas estacionam em lugares diferentes durante alguns dias e, geralmente, contam com a bondade de estranhos para tomar banho e usar o banheiro. Outras vezes, aliviam-se em jardins públicos ou privados, inclusive às vezes no nosso.
Sabemos que temos sorte por ter um jardim. Em janeiro, a poda das árvores mostra-se psicologicamente positiva. Dessa vez, porém, a poda foi um pouco mais profunda, e eu me vi decepando o loureiro que meu avô plantou em nosso jardim quando eu nasci, há 57 anos.
Até agora tivemos a sorte de escapar da loucura de cortar madeira para lenha que muitos gregos tiveram de adotar. Com o preço do combustível para aquecimento alcançando quase o dobro do ano passado, o aquecimento central é geralmente desligado. Lareiras e fogões, antes ornamentais, foram postos em serviço. Daí a coceira nos meus olhos todas as noites, quando muitos de nossos vizinhos voltam para suas casas frias e Atenas é envolvida em uma nuvem de fumaça. As advertências do governo de que a poluição superou níveis perigosos são recebidas com um levantar de ombros ou como mais uma trama para obrigar as pessoas a usarem o combustível taxada por altos impostos, cujo consumo caiu 80%. Enquanto isso, os serviços de proteção às florestas travam uma batalha inútil para evitar o desmatamento, em uma escala inédita.
Certamente temos mais sorte do que as pessoas que enchem os 191 sopões beneficentes dirigidos pela Igreja Ortodoxa Grega. Somos mais felizes que os "novos pobres", como o homem de meia-idade vestindo um terno Armani, um pouco gasto nos cotovelos e brilhando no assento das calças, que tenta ser invisível esperando na fila do sopão da praça Koumoundourou. Mais felizes que a respeitável mulher que caminha seis quilômetros todos os dias para fazer fila por dois potes de comida e depois volta para casa e finge cozinhar, pois não quer dizer a seu marido doente que eles não podem pagar pela comida.
Minha mulher e eu às vezes nos perguntamos se estamos em um estado de negação. Mas acreditamos que o maior perigo vem de sucumbir à depressão. Ambos lutamos todos os dias para sair da cama. Ficaríamos felizes em recomeçar, mas onde? Qualquer novo empreendimento requer dinheiro, e só temos o suficiente para sobreviver. É impossível obter crédito. Como a nuvem de fumaça que paira no céu de inverno em Atenas, queremos desesperadamente acreditar que a situação não é permanente.
Mas não podemos ter certeza. Pelo menos, sabemos que a fumaça no céu se dissipará quando chegar a primavera.


Texto do The New York Times, reproduzido na Folha de São Paulo, de 18 de fevereiro de 2013.

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