segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Do Brasil para o México


Do Brasil para o México
Não vale a pena ser o queridinho do Norte; o que valeu ao Brasil ocupar esse posto?
Em novembro passado, a revista "The Economist" publicou um relatório especial em que colocou o México nas alturas. Graças a uma taxa de crescimento melhor do que a do Brasil nos dois últimos anos e a uma política ainda mais favorável aos interesses do Norte do que a nossa, o México passava a ser seu novo "darling"-um papel que o Brasil até há pouco ocupava.
Nos anos 2000, o Brasil era declarado "o melhor dos Brics" porque era o que melhor atendia aos interesses do Norte, não obstante apresentasse crescimento que correspondia a menos de um terço do da China, à metade do da Índia, e a menos de um terço do da Rússia. Agora, o Brasil passou o bastão para o México.
Foi com esse quadro de fundo em mente que cheguei ao México. E o que leio no jornal Reforma? Já na primeira página sou informado que "O crime domina a fronteira sul".
Segundo câmaras empresariais de 30 municípios, o crime organizado assumiu o controle da fronteira sul. É a manchete do jornal, porque a notícia é nova. Sabemos bem que o norte do México, a fronteira com os Estados Unidos, foi tomado pela máfia das drogas, mas agora é o sul que cai na mesma tragédia.
Ainda na primeira página, sou informado que "No Canadá temem o México". Segundo um relatório apresentado ao Colégio Militar Real, o Canadá deve deixar de considerar o terrorismo sua principal ameaça e concentrar-se nos desafios que o México (e a máfia das drogas) representa para o país.
Para terminar, ainda na mesma edição leio que nos últimos 20 anos as doenças tropicais, também chamadas "males da pobreza", aumentaram em 20% no sudeste do país, segundo a Academia Mexicana de Dermatologia.
Mas o México agora cresce, dizem seus novos arautos internacionais. É verdade. Depois de 20 anos de baixo crescimento desde que aderiu ao Acordo do Atlântico Norte, bem mais baixo do que o do Brasil (que foi modesto), nos últimos dois anos o país cresceu, em média, 3,5% ao ano. Mas qual o preço pago por esse ainda magro crescimento? O preço de salários reais estagnados nos mesmos 20 anos e níveis de pobreza muito mais elevados que tornam competitiva a economia mexicana apesar do câmbio apreciado.
Não vale a pena ser o queridinho do Norte. O que valeu ao Brasil ocupar esse posto? Mais investimentos pelas multinacionais, me responderão. Sem dúvida, mas serão tão interessantes para o país esses investimentos? Não serão as respectivas entradas de capitais uma causada apreciação cambial? E não será por isso que as oportunidades de investimento lucrativo diminuíram e os empresários passaram a investir menos, de forma que a poupança externa substituiu a poupança interna ao invés de se somar a ela, e o que realmente aumentou foram consumo e remessas de dividendos?
Foi bom para o Brasil ter deixado de ser o objeto de desejo do Norte. Isto talvez signifique que nossas políticas econômicas respondem melhor ao interesse nacional, que nossa dependência está diminuindo, que aqui se está buscando construir uma nação, algo que já não parece ser verdade para o belo e antes orgulhoso México.


Nenhum comentário:

Postar um comentário