segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Desempregados nos EUA são discriminados por empresas e não conseguem vagas


A placa do lado de fora da lanchonete dizia que estavam contratando. Mas quando Mango Albert contou que estava desempregado, disseram-lhe que não havia vagas.
Kevin Johnson diz às pessoas que trabalha informalmente, em vez de admitir que está desempregado, porque ele teme ser visto como preguiçoso e desmotivado.
E Barbara Brown, ex-gerente de escritório, ficou sabendo que um sinal revelador de que ela não conseguirá um determinado emprego é quando perguntam por que ela está à procura de emprego há um ano e meio.
Esses moradores do Bronx estão entre o número crescente de novaiorquinos que dizem estar presos num círculo vicioso de desemprego – rejeitados inúmeras vezes para empregos que poderiam colocar comida na mesa, ressuscitar carreiras paralisadas e retirá-los de uma espiral negativa de dívidas.
Apesar de suas qualificações e experiência, estes candidatos a empregos afirmam que não tiveram uma oportunidade justa por causa de um motivo contra-intuitivo: eles já estão desempregados.
"Eu faço qualquer coisa - mas alguém precisa estar disposto a me contratar", disse Mango, 43, que não trabalha há nove meses e disse que perdeu sua casa porque não conseguia pagar o aluguel. "Se você não está trabalhando, este já é o primeiro golpe contra você."
É provável que a prefeitura de Nova York adote uma lei que permitirá que candidatos mal sucedidos na seleção para empregos processem as empresas que eles acharem que tomam as decisões de contratação com base no fato de eles estarem desempregados. A medida é vista por muitos como a ação mais dura de uma onda de recentes esforços do governo Obama e políticos eleitos em 18 Estados, incluindo Nova York, para ajudar aqueles que estão desempregados há mais tempo.
O Distrito de Columbia aprovou uma lei no ano passado que proíbe os empregadores de se recusarem a considerar ou a contratar candidatos que estão desempregados, e proibiu que os anúncios de emprego sugiram que os desempregados não devem se candidatar. Leis que proíbem a discriminação em anúncios de emprego também foram adotados por Nova Jersey e Oregon; uma medida semelhante na Califórnia foi vetada pelo governador.
Embora os empregadores relutem em reconhecer a preferência em suas contratações, alguns gerentes de recursos humanos e consultores dizem em privado que o desemprego pode ser um sinal vermelho num currículo, indicando que um trabalhador pode ter conhecimentos desatualizados, ou pode ser alguém que fica pouco tempo nos empregos e que está desesperado o bastante para pegar qualquer trabalho mas que o deixará logo que algo melhor surgir. O Projeto Nacional de Lei do Emprego, um grupo de defesa de direitos sem fins lucrativos, informou que empresas de todo o país costumam publicar anúncios de emprego excluindo explicitamente os candidatos que estão desempregados.
Tal discriminação contra os desempregados está se tornando cada vez mais comum uma vez que há poucos empregos e os empregadores podem escolher os candidatos, dizem líderes trabalhistas e comunitários. Eles afirmam que isso criou uma lista negra de desempregados, muitos dos quais foram demitidos durante cortes de pessoal causados pela recessão e não por problemas de desempenho.
Na cidade de Nova York, em média, 372 mil pessoas estavam desempregadas em 2012, 38% por um ano ou mais, de acordo com o Escritório de Estatísticas Trabalhistas dos EUA. Negros e hispânicos representam uma parte desproporcionalmente grande de desempregados há longo prazo.
"É o pontapé final no traseiro e totalmente injusto", disse numa entrevista Christine C. Quinn, presidente da Câmara Municipal. Quinn, uma líder democrata e candidata à prefeitura, reuniu membros da câmara para adotar a lei de desemprego por uma votação de 44 contra 4 no mês passado. "Queremos fazer tudo o que pudermos para ajudar as pessoas a trabalhar."
Mas a medida foi criticada pelo prefeito Michael R. Bloomberg, que a chamou de "equivocada" e pretende vetá-la. Ele e outros opositores, incluindo muitos líderes empresariais, disseram que o empregador tem o direito de considerar o que uma pessoa estava fazendo antes de se candidatar a um emprego, e que a lei poderia incitar inúmeros processos por parte de candidatos mal-sucedidos e impedir que as companhias contratem de modo geral. Numa rara dissensão pública com Bloomberg, Quinn disse que tinha apoio suficiente para derrubar o veto do prefeito.
A lei, se aprovada, pode entrar em vigor no meio do ano. Ela permitirá que candidatos mal-sucedidos processem uma empresa por discriminação, ou entrem como uma queixa junto à Comissão de Direitos Humanos da prefeitura, que teria autorização para impor sanções contra uma empresa que não cumpra a lei, incluindo multas de até US$ 250 mil, e exigir que o candidato seja contratado.
A lei também impediria a discriminação em anúncios de emprego, como aqueles que dizem aceitar apenas candidatos que estão empregados.
A luta pelo o projeto de lei do desemprego tem reverberado nas filas de emprego, cozinhas populares e abrigos por todo o Bronx, onde o número de pessoas que busca trabalho continua alto apesar dos esforços públicos e privados para fornecer aconselhamento e treinamento para o emprego, e para desenvolver novos negócios. A taxa de desemprego do Bronx é de 11,9% – a mais alta de Nova York – em comparação com 8,8% em toda a cidade, e 8,2% em todo o estado.
Muitos trabalhadores desempregados e seus defensores disseram que a medida vem com muito atraso trazer à luz uma barreira escondida para a contratação, mas mesmo alguns desses apoiadores questionaram a frequência com que isso, na realidade, de fato levará ao emprego.
Jaime Rodriguez, 38, diz que foi entrevistado sem sucesso por pelo menos oito empresas desde que foi demitido em maio de um emprego de US$ 79 mil por ano como gerente de compras da Faculdade Suny Maritime. Ele também estava sendo despejado depois de atrasar três meses de aluguel e não pagar seus cartões de crédito.
Rodriguez, ex-fuzileiro naval e pai de quatro filhos que tem um mestrado em administração de empresas, disse que os empregadores geralmente não oferecem um motivo específico para rejeitar um candidato.
"Eles respondem de volta, dizendo: 'achamos o seu currículo interessante, mas decidimos escolher outra pessoa'", diz ele. "Acho que não há como fazer cumprir essa lei."
Brown, a ex-gerente de escritório, diz que os empregadores podem deduzir a partir de seu currículo que ela estava desempregada há um ano e meio, e provavelmente foi o que fizeram.
"Vai ser a mesma coisa", disse ela. "Você pode inventar 101 motivos para não contratar alguém. Eles nunca vão dizer que é porque eu estou fora do mercado de trabalho há tanto tempo."
Mas outros trabalhadores desempregados disseram esperar que a medida seja capaz de persuadir os empregadores a reconsiderarem, enviando uma mensagem de que eles não são menos qualificados ou dignos do que aqueles que já estão empregados.
Johnson, de 42 anos, disse que se sentia mais frustrado a cada dia que ele permanecia desempregado. Ele foi demitido em setembro de uma empresa de limpeza onde trabalhou por cinco anos, ganhando cerca de US$ 25 mil por ano. "Quanto mais você ficar sem trabalhar, mais difícil é arrumar trabalho porque as pessoas não acreditam que você é responsável", disse ele.
Johnson disse que mesmo quando ele foi para entrevistas com seu melhor terno e uma atitude positiva, ele não conseguiu evitar as perguntas temidas. Por que ele estava demorando tanto para encontrar trabalho? O que ele estava fazendo com o tempo? Estava sentado em casa assistindo Jerry Springer? "Você sabe que vai se sair mal logo que eles dizem: 'há quanto tempo você está desempregado?'", disse ele. "Acho que isso não deveria fazer parte do processo. Deveriam avaliar se você é qualificado e pode preencher a vaga."
Reportagem de Winnie Hu, para o The New York Times, reproduzido do UOL. Tradutor: Eloise De Vylder

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