quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Entrevista de Giancarlo Carvalho Borges ao Fast Food Cultural (2014)

Reproduzo entrevista de 2014, de Giancarlo Carvalho Borges, para Paulo Carvalho, no antigo saite Fast Food Cultural. 


Estou reproduzindo porque recentemente, e só recentemente, li o livro As Mitologias Roubadas - Os 12 Trabalhos, e Giancarlo. 



1- Quando foi que surgiu a vontade de escrever?


Surgiu naturalmente, tão logo eu descobri que gostava de ler.

Acho que essa vontade é normal quando se lê muito. E, quando

surge esse desejo de expor seu pensamento e tornar real uma

história guardada na cabeça, começar a escrever, mesmo sem

método, é a válvula ideal.


2- De onde surgiu a ideia de fazer esse mashup de conteúdos e

porque os 12 trabalhos?


Sempre gostei muito das mitologias, praticamente todas, mas,

em especial, a greco-romana. A lenda sobre os trabalhos de

Hércules nunca saiu da minha cabeça, desde menino, quando li

"Os doze trabalhos de Hércules", o livro infantil escrito por

Monteiro Lobato e publicado em 1944. Como é uma história bem

conhecida, e memorável, durante as minhas andanças na cidade

me surgiu a ideia. Comecei a estudar e visitar diversos locais

conhecidos e, surpreendentemente, consegui chegar a uma

conexão entre elas e os trabalhos. Claro, a imaginação foi a

mil para que isso acontecesse.


3- Foi necessário muito estudo dos trabalhos e da cidade de

Porto Alegre para que a história pudesse ser criada?


Sim, bastante. Passei várias horas na Biblioteca Pública,

além, claro, de pesquisar praticamente tudo sobre os locais

escolhidos na internet. Além disso, a ajuda de um amigo

gaúcho, Miguel Felippe, técnico restaurador e profundo

conhecedor da história da cidade, foi fundamental para me

aprofundar na história e poder conectar com o enredo que tinha

na cabeça.


4- Dar a luz a um livro, todo o processo, foi um trabalho

hercúleo?


Sempre é. Afinal, é necessário ter carinho pela história,

tempo disponível (o que, na época, eu tive, por circunstância)

e conhecimento da língua. E paciência para não desistir, boa

vontade para sempre colocar a auto-crítica na mesa e coragem

para reescrever, refazer, deletar. Ou seja,é um processo de

contante entrega.


5- Segundo Chronus, quanto tempo levou para o livro ser

escrito e quais as maiores dificuldades?


Todo o processo levou praticamente 1 ano e meio. A maior

dificuldade, no meu caso, foi o excesso de ideias e a dor de

ter que deixar algumas "na sala de edição". Eu tinha sempre a

intenção de editar o livro, e sabia que o tamanho do livro

seria um fator importante numa futura avaliação. Sem falar,

claro no tempo diário disponível que eu tinha pra escrever.

Noitadas e noitadas foram necessárias.


6- O que você acha que falta para que pequenos artistas, de

inúmeras vertentes, saiam do esconderijo como você saiu?


Oportunidades, um pouco de sorte, e, definitivamente,

disciplina e dedicação. Se não entregar o coração, a alma e

boa parte do tempo no que se acredita, as ideias serão somente

ideias, e as oportunidades não virão. E contar só com a sorte

não é o melhor caminho.


7- Qual a sua dica para esses que ainda estão escondidos, com

medo de trombar com o Leão da Nemeia, ou com o Minotauro?


Primeiramente, ter disciplina e acreditar no potencial. Não

adianta começar algo e engavetar, pensando que não vale a pena

continuar. Pegue seu esboço, sua ideia ou projeto e divulgue.

Use a internet, suas conexões pessoas, seu amigos ou,

simplesmente, busque a fera que pode auxiliar no seu projeto e

esfregue na fuça dela o seu sonho. O máximo que pode acontecer

é um não, ou um conselho para aprimorar, ou uma mordida. Nada

que vá te matar.


8- Sei que deveria haver uma continuidade para a sua história,

você pretende concluí-la? Se não, por quê?


O livro apresenta sim a possibilidade de continuação da

história. Não significa que o livro não tenha um final, que

necessite de outras histórias para fechar algum ciclo. Tem sim

um desfecho bem definido, e adequado, ao meu ver. Mas, sim,

pretendo continuar essa aventura, assim que concluir um

projeto atual. Afinal, as mitologias são diversas, e ideias

não faltam.


9- Qual a sua maior satisfação após concluir o livro?


Terminar o livro foi um alívio, uma sensação de promessa

cumprida. Ter o livro em minhas mãos foi muito legal, uma

sensação de que o trabalho foi válido. Mas receber boas

críticas dos leitores, e o reconhecimento dos amigos e

familiares, foi, e ainda é, a melhor recompensa.


10- Você tem mais algum projeto em mente? Alguma outra

história que possa adiantar?


Sim, atualmente estou tentando conciliar o trabalho com a

escrita, e finalizar um novo livro, de temática e abordagem

diferente das Mitologias Roubadas.

Digamos que eu tenha um terço pronto, mas que toda a história

já está pronta, na cabeça. Posso adiantar que terá aventura,

mistério, realidade, ficção e fantasia, um detetive

improvável, sangue, crítica social e um ingrediente que me

enoja: políticos corruptos.


11- Sobre sua participação no projeto "Santa Sede", como foi a

experiência e o que você aprendeu? Qualquer um pode

participar?


Ter participado da Oficina e do Projeto Santa Sede foi um

divisor no meu método de escrita e no meu entendimento da

literatura. O Rubem Penz, idealizador e ministrante da oficina

tem uma capacidade surpreendente de envolver, de trocar

experiência e de repassar bons métodos para quem gosta de

escrever. E ali conheci pessoas especiais, amigos até hoje,

que também ensinam enquanto aprendem. Me sinto melhor escritor

depois de ter participado da turma de 2011. Quem quiser

participar, pode ter acesso às informações através do site

dele, o rubempenz.net. Vale muito a pena.


12- Além da escrita, existe mais alguma atividade artística

que você desenvolva dentro dos labirintos da vida?


Já fui um ótimo desenhista, dizem. Mas faz algum tempo que não

pratico. Qualquer hora eu volto a produzir meus rabiscos, prá

ver se ainda tenho o dom e para satisfazer alguns pedidos

insistentes. Produzo também, mais por hobby e exercício de

criatividade, sites diversos, logomarcas e material

publicitário, como cartazes e folders. Essa produção ainda é,

digamos, somente para os amigos e casos excepcionais.


13- Quais os 12 trabalhos que você acha que precisam ser

feitos em Porto Alegre para a cidade melhorar?


1) Escolher melhor os candidatos ao votar 2) Matar a carreira

de quem foi eleito e não cumpriu 3) Destruir a falta de

respeito com o cidadão 4) Exterminar o preconceito 5)

Valorizar as carreiras cruciais para a cidade, responsáveis

pela segurança, educação e saúde 6) Respeitar a opinião da

população 6) Ouvir e respeitar a juventude 7) Dar valor ao

papel da mulher na sociedade (sejam elas amazonas ou não) 8)

Respeitar o patrimônio e a história 9) Exterminar os

interesses particulares e opressores de algumas corporações

"monstro" 10) Renovar a cultura local, valorizando os que tem

mais qualidade do que "costa-quente" 11) Abrir a boca e não

aceitar o mal feito 12) Levar mais a sério o papel de

cidadão, afinal não basta matar um leão a cada dia: tem que se

manifestar e denunciar


14- E qual o trabalho mais difícil a ser enfrentado para que a

cidade melhore?


Definitivamente, saber escolher os governantes no próximo

pleito. Se não for levado a sério o voto, o futuro vai

apresentar muito mais do que 12 problemas e consequências

ruins. E será uma missão ingrata e difícil remediar a

situação.


15- Desde o lançamento do livro até agora, considerando todo

estudo minucioso que foi feito, você acha que a cidade

melhorou, ou piorou?


A cidade parou no tempo. Muito pouco ou quase nada foi feito

para melhorar as opções de diversão, cultura e educação. A

falta de respeito com o patrimônio histórico, a natureza e a

cultura é evidente. Os benefícios que os projetos para a Copa

do Mundo trariam não se concretizaram, por incompetência ou

mal-feito. Perdeu-se uma oportunidade única que dificilmente

se repetirá. Uma pena.


16- Você acha que um dia chegaremos próximos da Porto Alegre

retratada no seu livro?


Minha versão da cidade é, evidentemente, utópica. É um futuro

desejado, onde a tradição e a tecnologia coexistem. Pode até

parecer impossível, mas não é. Com o comprometimento da

sociedade, com políticas públicas e políticos melhores, os

"devaneios" do livro são, sim, perfeitamente realizáveis.

Um Arroio Dilúvio como um canal limpo onde as pessoas passeiam

a pé ou em pequenos barcos? Dá para fazer. Uma beira do Guaíba

com restaurantes, galerias, jardins e natureza exuberante?

Sim, é possível. Prédios históricos e monumentos resgatados

dentro das leis e técnicas corretas de restauração? Dá também.

Trens subterrâneos e aéreos para melhor circulação na cidade?

É só querer.


17- Porto Alegre, no ponto em que está, precisa de um herói?


Sim. Mas não de um herói único, solitário, mitológico. A

cidade precisa de uma Liga da Justiça inteira, onde a voz do

povo, a manifestação da juventude e a eterna insatisfação com

o mal feito sejam os principais super poderes. Só assim vamos

derrotar esse bando de vilões que andam por aí.


18- Para finalizar: qual seu Fast Food favorito?


Não tem como não gostar de um sanduba ou uma pizza bem feita.


19- Sabe cozinhar algum Fast Food que possa nos passar a

receita?


Quisera eu ter a intimidade com a gastronomia que meu irmão

possui... Mas, caso considerem um ovo frito e azeitona jogados

sobre uma fatia de pão um fast-food, posso mandar a receita. É

bom, até Cérbero comeria...


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