terça-feira, 27 de agosto de 2013

Garantias

Em artigo na Folha do dia 23, o jornalista Mário Chimanovitch define ironicamente como "almas sensíveis" e "almas bem-intencionadas" os jornalistas que repudiam as práticas do Estado, qualquer Estado, como as reveladas por Snowden, Assange e o recém-condenado Manning. Acha ele que a liberdade de informação não pode "se sobrepor ao direito do Estado de garantir a segurança do seu território e de seus cidadãos diante da ameaça letal, onipresente, do terrorismo islâmico inspirado em organizações como a Al Qaeda" (...).
Nada do divulgado pelos três implicou "ameaça letal" nem alimentou terrorismo. Mas Chimanovitch indaga, já explicitada sua resposta: "Que direitos, enfim, foram outorgados ao jornalista para que ele, como senhor absoluto da verdade, se empenhe em burlar os mecanismos do país onde trabalha ou que se configura em alvo de suas investigações', para expor dados que fatalmente vão comprometer medidas e pessoas empenhadas na proteção de seres humanos e bens nacionais?"
O jornalista a que Chimanovitch se refere não é menos "senhor absoluto da verdade" do que ele próprio mostra considerar-se, embora não tenha "alma sensível" nem "alma bem-intencionada".
Mesmo tal carência não impede de saber, porém, que na Alemanha nazista não era possível publicar nada sobre campos de concentração e outros crimes do Estado e do governo, a título de "garantir a segurança do seu território e de seus cidadãos diante da ameaça letal" de ciganos, homossexuais, deficientes físicos e, mais do que todos, judeus.


Mais Jânio de Freitas, na Folha de São Paulo

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